UMA ESMOLINHA POR AMOR DE DEUS!
O pobre vai pedindo esmola por cada porta…
Vêde-o esfarrapado, ouvi-lhe a voz que corta
os corações, ansiando uma côdea de pão…
A chuva em fio canta; é como um violão
em que o Tempo dedilha, iguais, longas, profundas,
as endeixas do outono e folhas moribundas.
Lá vai de porta
Pede por Deus, que é Pai universal dos céus,
o Pai que envia ao mundo – imenso sorvedoiro –
ao pobre as ilusões, ao rico os sacos de oiro.
As lágrimas de sal que a esmola ao pobre enxuga,
são mais doces que o mel que a sacra abelha suga.
Como a abelhinha, a esmola, haurindo em cada dor
as lágrimas de fel,
vertendo-as docemente em cálices de amor,
pelo amor as transforma em lágrimas de mel.
Lá vai! Não pode mais. Trupa em tôdas as casas.
Faz um frio mortal. Lá dentro cantam brasas.
Porque é que não abris? Pede por Deus! Dizei:
Quem ganha mais na esmola?... Um só a dá; mas
sei que cai em duas mãos. Os generosos veios
do pão dado por Deus, são quais maternos seios,
fecundos como o céu, puros como o jasmim,
doando a dois irmãos, simultâneo festim:
Recebe o pão da esmola o pobre, mais os seus,
mas quem a dá recebe a bênção do seu Deus.
In “Do Homem e da Terra” – Poemas – 1932
Edições “Brotéria” – Lisboa
Serafim Leite
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