ENTRE AS ROSAS
Desenho a minha ausência
juntamente com as rosas que murcham
mesmo em frente à janela onde escrevo.
Deixei cair umas pétalas, o ténue fio
de um caminho que se perde antes
do horizonte. Conto as letras que encontrei
nos bolsos, não chegam para nada
e não há perguntas, nada que queira saber.
Uns trocos para pão, migalhas no caminho
onde me esperas como se eu fosse um pássaro
faminto. Dou-te uma bicada de amor:
é tudo o que ficou fora do desenho.
As árvores dão estalidos
como se o vento se tivesse levantado
tão cedo. Estou aqui de véspera
e nem sequer estou cansada.
Atrás do monte há um roseiral.
Quando lá chegar direi que estive à tua espera
e será verdade como tudo o que escrevo:
amar-te-ei sempre entre as rosas
que planto ao acaso no papel
onde um rio canta
porque me esqueci de desenhar as margens.
In “Soletrar o Dia”
Edições Quasi – 2002
Rosa Alice Silva Branco
N. 1950
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