A NEVADA
Oh! Que loucura não vai no ar!
Parai, ó frias almas ligeiras!
A vida é curta!... Porque, fagueiras,
tombais tão brancas a soluçar?
Que pressa tendes?... – E porque não?
Se, entre os sorrisos da criançada,
breve seremos vultos de fada,
de Rei ou Papa, Napoleão!?...
Vamos ligeiros, mas é por bem!
A árvore é velha: não tem amores?…
Chegamos: fulge de brancas flores,
e é como noiva que à igreja vem.
E é morta a várzea? Lençol de amor
sôbre ela abrimos: que mais espera?
Dorme e renasce na primavera
no oiro do trigo, no rir da flor.
Mas tão depressa?!... Não serão mós
imensas de astros que vos trituram?
Parai! Não vêdes que vos procuram
no céu os Anjos?... Que tendes vós?
Tereis pecados?... Não! Isso não!
Não tem pecados uma açucena!
Mas tereis sonhos?... Sereis antena
levada aos ritmos do coração?
Tendes?!... Pois temo que ireis parar!
Olhai os homens: como o seu louco
voar de sonhos dura tão pouco!
– Mau sestro é êste de ir a sonhar!...
Bélgica – 1927
In “Do Homem e da Terra” – Poemas – 1932
Edições “Brotéria” – Lisboa
Serafim Leite
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