A CADEIRA
Esta cadeira ao acaso
em que me sento no café,
diz-me tanto, é um tal caso,
que ninguém pensa o que é!
Quantos nela se sentaram…
e nuns minutos do destino,
como eu nela rimaram
alegria e desatino!
Uns usaram-na e morreram
sem tomarem gosto à vida…
E quantos nela se prenderam
noutra lama apetecida?
É lenho quase sagrado,
aonde a vida persiste,
há nela um cheiro suado
de quem foi, não mais existe!
Quando vai a serra ao corte
o lenho não acaba ali…
Do que se entende por morte,
morte a imagem que eu vi!
Mas a madeira perdura
na cadeira em que me sento,
que mais parece criatura,
conforme seja o momento.
In “Castelo de Legos”
Papiro Editora
Maria de Lourdes Moreira Martins
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