SOMBRA
Vi-te uma vez, bem me lembro,
Quando passava na estrada.
Tinhas os olhos enormes,
E uns jeitos de namorada.
Que linda! Nem reparaste
Em mim, na melancolia
Que te punha o rosto pálido…
Era quase ao fim do dia.
Tinhas na tua janela,
Em flor, dois grandes craveiros.
Já a lua branca nascia
Como um ai, entre salgueiros.
Tornei a olhar-te de longe:
Tinhas os olhos pregados
Nalgum sonho imenso e vago,
Como os céus já mal doirados…
Nunca mais tornei a ver-te,
(Para que foi que te vi?!)
Mais tarde ouvi que morreras,
Ninguém mais falou em ti.
Ninguém mais! Foste levada
Nos grandes sonhos dispersos…
Só os craveiros secaram,
E eu escrevi estes versos!
Porto.
In “Revista A Águia”
N.º 1 – 1ª Série de 1/12/1910 – Ano I
Júlio Brandão
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