AGONIAS DOS POBRES DE CRISTO
– «Porque andas, Sol, embuçado
nessa nuvem negra, espessa?
– Também tens frio, coitado!
Eu sinto arder a cabeça,
mas trago o corpo gelado!...
Cristo-Rei se compadeça,
e nos mande o pajem loiro…
Dar-nos sol é dar-nos oiro!»
«Virgem Mãe, amaina o vento,
tira-lhe a dura vergasta…
Não é de bom sentimento
tratar assim a pobreza:
Sacode, fustiga e arrasta…
É doido e mau com certeza.»
«Chora a minha alma e quem passa
mais se apressa, não se importa…
Bate a chuva na vidraça,
todos lhe fecham a porta…»
«Ó chuva, eu choro contigo
o mal de não ter abrigo
onde há calor e carinho…
A ti impele-te o vento;
leva-me a mim o tormento…
Que triste o nosso caminho!»
«Acabe o penoso afã;
no Céu se brindam trabalhos:
Hei-de lá ser a manhã
e a chuva prata de orvalhos…»
«Cai neve, cai levemente,
faz-me a cama de lavado;
além de ser desgraçado
bem sabes que estou doente…
Chega o lençol prateado
ao meu corpo moribundo…
Aclara tu este mundo…»
– «E essa manta azul de estrelas,
esmola das noites belas,
que Deus punha sobre mim?
Era linda, grande e leve…
Roga lá no Céu, ó neve,
que ma traga um Querubim…»
Se não há ninguém que valha
a quem viva em tal pobreza,
bendita seja a mortalha
que lhe dá a Natureza!
In “Sinfonia da Terra” – 1943
Livraria Editora Educação Nacional – Porto
Isaura Matias de Andrade
SEGREDOS DA ALMA, A ALMA OS ADVINHA Em encobria a dor folgando amargurada, para ninguém jamais saber do meu segredo. ...
. Mais poesia em
. Eu li... Isaura Matias de...
. Eu li... Isaura Matias de...