CARONTE
Caronte, juntos agora remaremos:
eu com a música, tu com os remos.
Meus pais, meus avós, meus irmãos,
já também vieram, pelas tuas mãos.
Mas eu sempre fui a mais marinheira:
trata-me como tua companheira.
Fala-me das coisas que estão por aqui,
das águas, das névoas, dos peixes, de ti.
Que mundo tão suave! que barca tão calma!
Meu corpo não viste: sou alma.
Doce é deixar-se, e ternura o fim
do que se amava. Quem soube de mim?
Dize: a voz dos homens fala-nos ainda?
Não, que antes do meio sua voz é finda.
Rema com doçura, rema devagar:
não estremeças este plácido lugar.
Pago-te em sonho, pago-te em cantiga,
pago-te em estrela, em amor de amiga.
Dize, a voz dos deuses onde principia,
neste mundo vosso, de perene dia?
Caronte, narra mais tarde, a quem vier,
como a sombra trouxeste aqui de uma mulher
tão só, que te fez teu amigo;
tão doce - ADEUS! - que canta até contigo!
In “Mar Absoluto e Outros Poemas”
“Ler Por Gosto” - Areal Editores
Cecília Meireles
(Poetisa Brasileira)
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