OCASO
Hora calma da tarde que adormece.
O céu é tão límpido que ainda
O sol está no céu, e já aparece
O fulgor das estrelas. Tarde linda!
A terra está quieta, recolhida,
Olhando o espaço. O ar se cala: e até
Parece que suspende agora a vida
Em tudo, como em êxtase de fé.
Dobram-se meus joelhos para a terra,
E os meus olhos se perdem na amplidão.
E minh´alma que aos poucos se descerra
Do corpo, vai onde os olhos não vao.
E ficou imóvel, mudo, sem sentido.
Do que há torno a mim, e dentro sinto
Outro mundo em que vivo, já vivido,
Talvez quando o meu corpo era indistinto.
E estou assim como quem vai sentindo
Que o sono vem e as pálpebras fechou;
Outro mundo em que vivo, já vivido,
Talvez quando o meu corpo era indistinto.
E estou assim como quem vai sentindo
Que o sono vem e as pálpebras fechou;
E acordado não está, nem está dormindo,
E está n´um sonho. Assim eu estou.
In “Versos” - 1909
Mário Alencar
(1872-1925)
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