OS CABELOS DE INÊS
Deus, e o seu espantoso Juízo…
Testamento de D. Pedro I
Às mãos de D. João VI chega, um dia,
dos cabelos de Inês um pouco de oiro,
de esse adorado tesoiro
loiro, que ao Sol de outrora refulgia.
Raios de fina luz tinham chegado
do silêncio do túmulo dormente,
– fios de mel doirado
raios de Sol ardente –
e com seu vivo lume resplendente
por dentro o haviam todo iluminado!
Toma-os, curioso, nos seus gordos dedos,
o rei, e para vê-los se prepara…
Os cabelos aonde se poisará
boca amorosa e anciosa, em beijos e em segredos…
Mas eis que o vento arranca esses cabelos
de aquelas mãos, no irado gesto aério!...
– Graças te dou, ó vento de mistério…
E nunca mais ninguem conseguiu vê-los.
1909
In “Revista A Águia”
N.º 4 – 1ª Série de 15/1/1911 – Ano I
Afonso Lopes Vieira
1878 – 1946
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