OUVE, MEU ANJO
Ouve, meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
onde a saliva é mel?
Calmo, tentou, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí,
– a carne do assassino
É como a do virtuoso.
Numa atitude elegante,
misterioso, gentil,
deu-me o seu corpo doirado
que eu beijei quase febril.
Na vidraça da janela,
a chuva, leve, tinia...
Ele apertou-me cerrando
os olhos para sonhar –
e eu lentamente morria –
como um perfume no ar!
In "Canções"
António Botto
1897 – 1959
. Mais poesia em
. Eu li...
. Eu li... Charles Baudelai...
. Eu li... Carlos Drummont ...
. Eu li... Juan Ramón Jimén...
. Eu li... Vincenzo Cardare...