BOAS NOITES COVEIRO
Boas noites coveiro: a tua enxada
Não cessa há tanto tempo de cavar?!
Cavaleiro da morte, ó fronte desolada
Não sentes a mão trémula e cansada
De tanto trabalhar!
Tu esperas hoje as legiões sombrias
De mortos, que eu suponho ao longe ver?
Os felizes caídos nas orgias
E os tristes que além todos os dias
O gelo vem colher?!
Que imensa vala aberta! são medonhos
Os risos d'essa boca infame, alvar!...
Descansa dos teus dias enfadonhos!
– Eu cavo a sepultura dos teus sonhos
Não posso descansar!
In “A Alma Nova”
I. N. – Casa da Moeda
Guilherme de Azevedo
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