EM UMA TARDE DE OUTONO
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?
A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol...
In In “Olavo Bilac - Obra Reunida”
Olavo Bilac
(1865-1918)
ANDA VEM...
Anda vem... porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha – rosa de lume?
Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.
Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!
E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
– Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!
Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!
In "As canções de António Botto"
Editorial Presença - 1999
António Botto
(1897-1959)
O HOMEM E O MAR
Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.
Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.
Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!
E há séculos mil, séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
Eternos lutadores ó irmãos implacáveis!
In "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
Charles Baudelaire
(1821-1867)
O EXILADO
É soberba, elegante, presumida,
A Mocidade alegre e descuidosa;
Por isso a gente moça anda vestida
Quase sempre de verde ou cor de rosa.
Assim também os prados reverdecem
Na primavera ao Sol cheio d'ardores,
As ervas nascem, os jardins florescem,
E os pessegueiros toucam-se de flores.
Mas Aquele que vive expatriado,
Embora esteja no verdor da idade,
Traz negros os vestidos, e enlutado
O coração nas trevas da saudade...
In "Quinhentos Poemas Chineses"
Tradução de Feijó
Coordenação de António Graça de Abreu
Ed. Vega
[O maior poeta da dinastia Song]
Su Dongbo
(1037-1101)
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