Domingo, 30 de Abril de 2017

Eu li... Olavo Bilac

EM UMA TARDE DE OUTONO

 

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas

Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.

Outono... Rodopiando, as folhas amarelas

Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...

 

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,

Visitaste este mar inabitado e morto,

Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,

Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

 

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos

A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...

Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!

 

E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,

E contemplo o lugar por onde te sumiste,

Banhado no clarão nascente do arrebol...

 

In In “Olavo Bilac - Obra Reunida”

 

Olavo Bilac

(1865-1918)

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Quinta-feira, 20 de Abril de 2017

Eu li... António Botto

ANDA VEM...

 

Anda vem... porque te negas,

Carne morena, toda perfume?

Porque te calas,

Porque esmoreces,

Boca vermelha – rosa de lume?

 

Se a luz do dia

Te cobre de pejo,

Esperemos a noite presos num beijo.

 

Dá-me o infinito gozo

De contigo adormecer

Devagarinho, sentindo

O aroma e o calor

Da tua carne, meu amor!

 

E ouve, mancebo alado:

Entrega-te, sê contente!

– Nem todo o prazer

Tem vileza ou tem pecado!

 

Anda, vem!... Dá-me o teu corpo

Em troca dos meus desejos...

Tenho saudades da vida!

Tenho sede dos teus beijos!

 

In "As canções de António Botto"

Editorial Presença - 1999

 

António Botto

(1897-1959)

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Segunda-feira, 10 de Abril de 2017

Eu li... Charles Baudelaire

O HOMEM E O MAR

 

Homem livre, o oceano é um espelho fulgente

Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,

Como em puro cristal, contemplas, retratado,

Teu íntimo sentir, teu coração ardente.

 

Gostas de te banhar na tua própria imagem.

Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos

Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,

As queixas que ele diz em mística linguagem.

 

Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;

Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,

Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;

Os segredos guardais, avaros, receosos!

 

E há séculos mil, séculos inumeráveis,

Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,

De tal modo gostais n'uma luta selvagem,

Eternos lutadores ó irmãos implacáveis!

 

In "As Flores do Mal"

Tradução de Delfim Guimarães

 

Charles Baudelaire

(1821-1867)

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Sábado, 1 de Abril de 2017

Eu li... Su Dongbo

O EXILADO

 

É soberba, elegante, presumida,

A Mocidade alegre e descuidosa;

Por isso a gente moça anda vestida

Quase sempre de verde ou cor de rosa.

 

Assim também os prados reverdecem

Na primavera ao Sol cheio d'ardores,

As ervas nascem, os jardins florescem,

E os pessegueiros toucam-se de flores.

 

Mas Aquele que vive expatriado,

Embora esteja no verdor da idade,

Traz negros os vestidos, e enlutado

O coração nas trevas da saudade...

 

In "Quinhentos Poemas Chineses"

Tradução de Feijó

Coordenação de António Graça de Abreu

Ed. Vega

 

[O maior poeta da dinastia Song]

 

Su Dongbo

(1037-1101)

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