Quarta-feira, 30 de Novembro de 2016

Eu li... Bertolt Brecht

HÁBITOS DE AMAR

 

Não é exacto que o prazer só perdura.

Muita vez vivido, cresce ainda mais.

Repetir as mil versões prévias, iguais

É aquilo que a nossa atracção segura:

O frémito do teu traseiro há muito

A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!

E a segunda é, que traz venturas mil,

Que a tua voz presa exija o desfruto!

Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar!

E o tremer, que à minha carne sinal solta

Que saciada a ânsia, logo te volta!

Esse serpear lasso! As mãos a buscar-

Me. Tua a sorrir!

Ai, vezes que se faça:

Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!

 

In “Da Sedução, Poemas Eróticos”

Tradução de Aires Graça

Editorial Bizâncio - 2004

 

Bertolt Brecht

(1898-1956)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Domingo, 20 de Novembro de 2016

Eu li... Casimiro de Brito

DEITO-ME A TEU LADO

 

Deito-me a teu lado. Sou a tua sombra

no lençol. Vou decifrar a luz dos teus olhos,

não me dás tempo. Os teus dedos tocam-me no rosto,

descem à garganta, começam a soletrar

o mapa do meu corpo: um grão sob a axila, uma pálpebra

que cintila, o rubor do mamilo

e já teus dentes se ocupam

do outro. Pressionas músculos e ossos

ao mesmo tempo que toco ao de leve

um seio, um lábio: quero deter-me no joelho

onde leio quedas na neve

e no ballet. Não me dás tempo.

Os corpos rodam, as mãos buscam outra terra,

outras águas. Os seios na virilha,

a barriga no pescoço. Estaremos a caminhar

demasiado depressa? Acaricias onde prometo

uma haste de sol. Uma casa voadora

na margem deste mundo tão previsível.

Erigimos com os nossos corpos

a mais efémera das esculturas. As tuas mãos

convidam-me a voar. Agora sou eu

quem não te dá tempo, escavando e descendo

à fenda silenciosa. Ouço-a. Um canto leve

e depois allegro e depois mais fundo.

Já não sei onde estou, quem sou

sobre as fontes e os rios e os abismos

de ti. Sentas-te, lama delicada, no meu peito

e desces e ajustas os teus ninhos

ao pequeno pássaro que pouco a pouco

se agita. Palpo e bebo e retenho a terra volátil.

a espuma, a vegetação de coxas, nádegas, mamas e águas

flutuantes. Ora subo ao chão ora me enterro

no ar, no lábio onde começa uma árvore

que se eleva até às nuvens. Não me dás tempo,

eu quero a eternidade mas tu não me dás tempo

para te contemplar. Ânfora nua

que bebo por fora e por dentro.

Dou-te a minha vida em troca da tua.

 

In “69 Poemas de Amor”

4Águas Editora - 2008

 

Casimiro de Brito

(N. 1938)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quinta-feira, 10 de Novembro de 2016

Eu li... Antonia Pozzi

A VIDA

 

No limiar do outono

num silencioso

pôr-do-sol

 

descobres a onda do tempo

e a tua secreta

rendição

 

como de ramo em ramo

a queda

leve dum pássaro

cujas asas já não o sustêm.

 

Tradução de Albano Pina

 

In "Paroles" - 1939

 

Antonia Pozzi

(1912-1938)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Terça-feira, 1 de Novembro de 2016

Eu li... Angel María Dacarrete

RECORDAÇÃO

 

A lua não brilhava, sacudidas

pelo vento as ramagens queixavam-se.

Chispas de luz vertiam as estrelas

sobre as trémulas águas.

Sob seu incerto esplendor eu via

rolar por suas faces uma lágrima

e, toda trémula, entre suas mãos hirtas

minhas mãos apertava.

Mas de repente de seus olhos negros

o vivo raio penetrou minha alma,

e, retirando sua mão das minhas,

seu olhar afastava.

A altiva fronte levantou serena;

sorriso amargo em seus lábios vagueava…

e, pálidos nós dois e silenciosos,

deixámos a ramada.

 

Tradução José Bento

 

In “Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro”

Assírios & Alvim

 

Angel María Dacarrete

(1827-1904)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito

.Eu

.pesquisar

 

.Maio 2017

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. Eu li...

. Eu li... Olavo Bilac

. Eu li... António Botto

. Eu li... Charles Baudelai...

. Eu li... Su Dongbo

. Eu li... Jacinta Passos

. Eu li... Laura Riding

. Eu li... Carlos Drummont ...

. Eu li... Juan Ramón Jimén...

. Eu li... Vincenzo Cardare...

.arquivos

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds