PESCARIA
Cesto de peixes no chão.
Cheio de peixes, o mar.
Cheiro de peixe pelo ar.
E peixes no chão.
Chora a espuma pela areia,
na maré cheia.
As mãos do mar vêm e vão,
as mãos do mar pela areia
onde os peixes estão.
As mãos do mar vêm e vão,
em vão.
Não chegarão
aos peixes do chão.
Por isso chora, na areia,
a espuma da maré cheia.
In “Ou isto ou aquilo”
Editora Nova Fronteira
Cecília Meireles
(1901-1964)
TARDE DE LEITE E ROSAS OUVINDO A FLORESTA
Tarde de leite e rosas. Cada aresta,
Tinha um rubi tremente:
Fomos ouvir o canto da floresta,
O seu canto de amor, ao sol poente.
Tu querias sorver os poderosos
Lamentos de saudade e comoção
Que, as raízes, dos fundos tenebrosos,
Mandavam, pelo ramo, pra o clarão.
Opalescera já, o ar. O vento,
Correndo atrás da sombra, murmurou...
Sentiu-se um fechar de asas. Num momento,
A floresta, cantou.
Em cada ramo, um violino havia:
Cada folha vibrava, ágil, sonora,
Par'cendo que escondia uma harmonia,
Nas sombras das ramagens, a Aurora.
Como a floresta, meu amor, eu tento,
Atirar o meu canto para a altura:
Para a fazer cantar, toca-lhe o vento,
Pra me fazer cantar, no pensamento,
Passa o sopro da tua formosura.
In “Na Asa do Sonho”
João Lúcio
(1880-1918)
LUAR DO SERTÃO
Não há ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Oh que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branqueando
Folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Se a lua nasce
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão
E a gente pega
Na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia
A nos nascer do coração
Se Deus me ouvisse
Com amor e caridade
Me faria essa vontade
O ideal do coração:
Era que a morte
A descantar me surpreendesse
E eu morresse numa noite
De luar no meu sertão
In "Meu Sertão"
Livraria Castilho
Catulo da Paixão Cearense
(1863-1946)
PONTO DE VISTA
Eu não tenho vergonha
de dizer palavrões,
de sentir secreções
(vaginais ou anais).
As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes
Ah! a poesia, que tudo põe a nu.
In "O bom filho a casa torra"
Editora Blocos
Leila Míccolis
(N. 1947)
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