Terça-feira, 28 de Outubro de 2014

Eu li... Emanuel Félix

APELO PARACLETO

 

Para o Francisco Jorge

 

Deixa-te estar assim um instante mais pousada

no parapeito da janela,

antiquíssima profetisa dos bosques.

 

Não te vás,

pequeno deus do orvalho

(pelo menos enquanto escrevo este poema).

 

Deixa-te estar um instante mais

pousada

no parapeito da janela

que eu não sou caçador não ouso

armadilhas nem flechas

nem te levarei de oferta à minha amada,

noiva de Salomão,

ave sagrada de Afrodite,

símbolo talmúdico da castidade.

 

Fica,

alado peixe duplo,

breve mensageira da Grande Mãe Telúrica.

 

Deixa-te estar um instante mais pousada

no parapeito da janela,

portadora do ramo de oliveira.

 

Quero saber se o Dilúvio Universal

já acabou lá fora

e se o Espírito de Deus paira de novo sobre

as águas da substância primordial

indiferenciada.

 

In “O Instante Suspenso”

Editado por Instituto Açoriano da Cultura

 

Emanuel Félix

1936 – 2004

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Quinta-feira, 23 de Outubro de 2014

Eu li... Mário Quintana

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

 

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

 

In “A Cor do Invisível”

Editora Globo – 1989

 

Mário Quintana

(Poeta Brasileiro)

1906 – 1994  

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Sábado, 18 de Outubro de 2014

Eu li... Elisa Lucinda

COR - RESPONDÊNCIA

 

Remeta-me os dedos

em vez de cartas de amor 

que nunca escreves

que nunca recebo.

Passeiam em mim estas tardes

que parecem repetir

o amor bem feito

que voce tinha mania de fazer comigo.

Não sei amigo

se era o seu jeito

ou de propósito

mas era bom, sempre bom

e assanhava as tardes.

Refaça o verso 

que mantinha sempre tesa

a minha rima

firme

confirme

o ardor dessas jorradas

de versos que nos bolinaram os dois

a dois.

Pense em mim

e me visite no correio

de pombos onde a gente se confunde

Repito:

Se meta na minha vida

outra vez meta

Remeta.

 

In “O semelhante”

Editora Record  - Rio de Janeiro - Brasil

 

Elisa Lucinda

(Poeta Brasileira)

N. 1958

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Segunda-feira, 13 de Outubro de 2014

Eu li... Dora Ferreira da Silva

MADURO PARA O CANTO

 

Maduro para o canto

vertes, cântaro,

a água pura

e suas sete cores

unindo lago e lago.

Barco em flor

rio correndo da prece

promessa em silêncio

da messe.

 

Sem pressa

o agapanto floresce.

 

In “ANDANÇAS 1948-1970” 

Edição da Autora

 

Dora Ferreira da Silva

(Poeta Brasileira)

1918 – 2006 

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Quarta-feira, 8 de Outubro de 2014

Eu li... Maria do Rosário Pedreira

PAI, DIZEM-ME QUE AINDA TE CHAMO

 

Pai, dizem-me que ainda te chamo, às vezes, durante

o sono - a ausência não te apaga como a bruma

sossega, ao entardecer, o gume das esquinas. Há nos

meus sonhos um território suspenso de toda a dor,

um país de verão aonde não chegam as guinadas

da morte e todas as conchas da praia trazem pérola. Aí

 

nos encontramos, para dizermos um ao outro aquilo

que pensámos ter, afinal, a vida toda para dizer; aí te

chamo, quando a luz me cega na lâmina do mar, com

lábios que se movem como serpentes, mas sem nenhum

ruído que envenene as palavras: pai, pai. Contam-me

 

depois que é deste lado da noite que me ouvem gritar

e que por isso me libertam bruscamente do cativeiro

escuro desse sonho. Não sabem

 

que o pesadelo é a vida onde já não posso dizer o teu

nome - porque a memória é uma fogueira dentro

das mãos e tu onde estás também não me respondes.

 

In 'Nenhum Nome Depois'

Editora Gótica

 

Maria do Rosário Pedreira

N. 1959

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Sexta-feira, 3 de Outubro de 2014

Eu li... Cruz Magalhães

AMOR PÁTRIO

(Afonso Henriques)

 

A Licinio Perdigão

 

O fundador da Patria Portuguesa

Foi um supremo genio da Vitória;

Guerreiro com bravura e destreza,

Remotamente honrou a nossa história.

 

Heroicidade cheia de nobreza,

As gerações respeitam-lhe a memoria,

O tempo não destroi tanta grandeza,

É imortal a verdadeira glória!...

 

Alargando as fronteiras, o poder

Da nova Patria, que a seus olhas brilha,

Quase renega quem lhe deu o ser.

 

Divisa um rumo só, radiosa trilha,

A que lhe impõe a honra e o dever;

Tambem a Patria é mãe... e sua filha.

 

Do livro Sem norte, no prelo.

 

In “Alma Nova”

Directores Literários A. Bustorff & Mateus Moreno

Ano III – Janeiro -1918 – Nº 25 (III Série)

Pág. 6

 

Cruz Magalhães

1864 – 1928

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