Segunda-feira, 28 de Maio de 2012

Euli... Cora Coralina

ASSIM EU VEJO A VIDA...

 

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

 

 

Cora Coralina *

(Poetisa Brasileira)

1889 – 1985

 

*(Pseudónimo de Ana Lins

dos Guimarães Peixoto Bretas)

 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quarta-feira, 23 de Maio de 2012

Eu li... Almeida Garrett

OS CINCO SENTIDOS

 

São belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
        Em toda a natureza
        Não vejo outra beleza
        Senão a ti - a ti!

 

Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa,
Será; mas eu do rouxinol que trina
       Não oiço a melodia,
       Nem sinto outra harmonia
       Senão a ti - a ti!

 

Respira - n'aura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste,
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
       Não percebe, não toma
       Senão o doce aroma
       Que vem de ti - de ti!

 

Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo;
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
       Famintos meus desejos
       Estão... mas é de beijos,
       É só de ti - de ti!

 

Macia - deve a relva luzidia
Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
       Sentir outras carícias,
       Tocar noutras delícias
       Senão em ti - em ti!

 

A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
       Em ti, por ti deliram.
       Em ti a minha sorte,
       A minha vida em ti;
       E quando venha a morte
       Será morrer por ti.


In “Folhas Caídas”

Almeida Garrett

1799 – 1854

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Sexta-feira, 18 de Maio de 2012

Eu li... Gonçalves Crespo

CONSOLAÇÃO

Quando à noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso...

Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.

Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vão de todo esmorecendo;

Eu cuido ver-te, oh lírio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.

1869

In “Miniaturas” – 1871

 

Gonçalves Crespo

(Poeta Luso-Brasileiro)

1846 – 1883  

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Domingo, 13 de Maio de 2012

Eu li... Ernesto Lara Filho

POEMA DA PRAIA MORENA


Benguela

tinha tico-tico e colo-colo

nesse tempo

mesmo na Praia Morena

E o Mar

escondia

jamantas terríveis

E tinha

caranguejos,

santolas,

que a gente caçava com fisga.

Foi o filho do Rodrigues

despachante

que ensinou

Nada se perdeu;

o búzio ali está na mezinha de cabeceira

zunindo histórias,

fazendo lembra

o menino que eu fui.

 

In “O Canto do Matrindinde”.

Editorial Capricórnio – Lobito – 1974

 

Ernesto Lara Filho

(Poeta Angolano)

1932 – 1977 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | ver comentários (2) | favorito
Terça-feira, 8 de Maio de 2012

Eu li... Jorge Barbosa

SIMPLICIDADE

 

Eu queria ser simples naturalmente

sem o propósito de ser simples.

 

Saberia assim sofrer com mais calma

e rir com mais graça.

Saberia amar sem precipitações.

 

Os meus sonhos não meteriam esses rumos impossíveis

de terras mais além.

Bastar-me-ia a curta travessia no mar de canal

num dos nossos minúsculos veleiros

para ir conhecer a ilha defronte.

 

Não teria ambições de posses e grandezas.

Contentar-me-ia

com os insignificantes objectos que os pobres estimam

algum canivete com argola para pendurar no cinto

que bem me serviria para picar na palma da mão

o tabaco para o cachimbo.

Ou talvez quisesse um relógio barato

desses que vinham do Japão antes da guerra.

 

Chegá-la-ia ao ouvido do meu filho mais novo

só para lhe ver no rosto

a expressão de espanto e curiosidade.

E quando estivesse assentado à porta de casa

nas pesadas noutes de Verão

veria as horas no mostrador luminoso.

 

Eu queria ser simples

e a minha vida seria

sem egoísmos, sem ódios, sem invejas, sem remorsos.

A minha felicidade

não incomodaria ninguém

nem haveria impropérios nem blasfémias

nos meus momentos difíceis.

 

Seria sem gramática

a minha poesia,

feita toda de cor

ao som do violão

com palavras aprendidas na fala do povo.

 

Eu queria ser simples naturalmente

sem saber que existia a simplicidade.

 

 

In “Ler Por Gosto”

Areal Editores

 

Jorge Barbosa

(Poeta Cabo-Verdiano)

1902 – 1971  

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quinta-feira, 3 de Maio de 2012

Eu li... Arnaldo Santos

POEMA AO SOL

 

II

 

O sol da minha terra

o seu tamanho

Entra em todos os olhos

mesmo nas fundas cacimbas sem futuro

É a única oferta.

 

O sol da minha terra

o seu calor

Arde em todos os peitos

aquele fogo lento das massuícas

É o único alimento.

 

O sol da minha terra

a sua luz

Acende em todas as coisas

o convite das cores do céu-folhas-musseque

É a única pureza.

 

O sol da minha terra

Às vezes é também

um relâmpago do meio-dia

E queima as sombras dos homens,

 

O sol da minha terra!

O sol da minha terra!

 

In “Ler Por Gosto”

Areal Editores

 

Arnaldo Santos

(Poeta Angolano)

N. 1935

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito

.Eu

.pesquisar

 

.Maio 2017

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. Eu li...

. Eu li... Olavo Bilac

. Eu li... António Botto

. Eu li... Charles Baudelai...

. Eu li... Su Dongbo

. Eu li... Jacinta Passos

. Eu li... Laura Riding

. Eu li... Carlos Drummont ...

. Eu li... Juan Ramón Jimén...

. Eu li... Vincenzo Cardare...

.arquivos

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds