Meus senhores, é mesmo um problema
Esse desemprego!
Com satisfação acolhemos
Toda oportunidade
De discutir a questão.
Quando queiram os senhores! A todo momento!
Pois o desemprego é para o povo
Um enfraquecimento.
Para nós é inexplicável
Tanto desemprego.
Algo realmente lamentável
Que só traz desassossego.
Mas não se deve na verdade
Dizer que é inexplicável
Pois pode ser fatal
Dificilmente nos pode trazer
A confiança das massas
Para nós imprescindível.
É preciso que nos deixem valer
Pois seria mais que temível
Permitir ao caos vencer
Num tempo tão pouco esclarecido!
Algo assim não se pode conceber
Com esse desemprego!
Ou qual a sua opinião?
Só nos pode convir
Esta opinião: o problema
Assim como veio, deve sumir.
Mas a questão é: nosso desemprego
Não será solucionado
Enquanto os senhores não
Ficarem desempregados!
In “Antologia Poética”
Bertold Brecht
(Poeta e dramaturgo alemão)
NOITE DE NATAL
É na noite de Natal
A data comemorada
Em reunião familiar
É noite de consoada.
É a data festejada
Do nascimento do Senhor
É a data desejada
Por ser de paz e amor.
Amor por Jesus Senhor
E por amor familiar
Sempre com paz e amor
Desejamos festejar
E da festa resultar
Um amor acumulado
E desse amor encontrar
O perdão do seu pecado.
Amor sempre desejado
A toda a humanidade
Devendo ser conservado
Até à eternidade.
Por Jesus acompanhado
Com muito amor e carinho
No Natal é festejado
O nascimento do Divino.
Em reunião familiar
Cheios de amor, paz e luz
Comem, bebem e a cantar
Vão louvando a Deus Jesus.
Que nasceu p’ra nos salvar
E foi pregado na cruz
Que para nos abençoar
Nós rezamos a Jesus.
É Jesus de Nazaré
O nosso homenageado
Pelo Natal é que é
Por todos nós festejado.
Que põe na chaminé
O sapato com cuidado
Para com a nossa fé
Obter o desejado.
In “Realismo Popular” – 3.ª Publicação
Porto da Lage – Tomar
Manuel António Cordeiro
IGUALDADE
Ser homem ou ser mulher,
Ter cor da pele qualquer,
Não tira dignidade,
Já é humanidade.
O rei e o presidente,
O pobre e o mendigo,
Néscio ou ciente,
São iguais, amigo.
Todos são diferentes,
Há condições sociais,
Mas... sangue azul nas mentes?
- Não queremos nunca mais.
Diz ao mais pequenino:
- Tens valor universal,
És águia, sai do ninho,
Alto voa, és igual.
In "Valores Universais"
David V. Gonçalves
ONDE ESTÁS
É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
“Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?”
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
“Oh! minh'amante, onde estás?...”
Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu'eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás?..
Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida,
Íris – do náufrago errante,
Ilusão – d'alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
“Oh! minh'amante, onde estás?...”
In “Espumas Flutuantes”
Castro Alves
(Poeta Brasileiro)
MEU FILHO, POR FALTA DE TEMPO ERREI
Meu filho eis o testemunho de tua mãe
Escuta esta confidência
É um grito que do coração me sai
E que só tu me darás a penitência
Reconheço, arrependida a minha culpa
Passei a vida a correr
Não tive tempo para ti
Somente para te fazer
Quantas vezes me estendestes
Os teus pequeninos braços
E eu nunca tive tempo
Desses teus puros abraços
Com rapidez à noitinha
Ao teu quarto ia espreitar
Quem sabe se com o tempo
Estarias a sonhar!
Reconheço arrependida a minha culpa
Quando fostes prá a escola, eu sem me aperceber
Que egoísmo não ter tempo
Nem sequer de te ouvir ler
Reconheço arrependida a minha culpa
Quando me pedias para contigo falar
Eu sempre me desculpava
Meu filho, quando voltar...
Reconheço arrependida a minha culpa
Pela herança que te deixei
Deixei-te falta de tempo
E por falta de tempo errei
Afinal o tempo fica
Meu reino chegou ao fim
Agora que tenho tempo
Tu não tens tempo p’ra mim
Ah meu filho, meu filho se eu pudesse
Resgatava o tempo que perdi
Porque parte desse tempo era só teu
Tempo que passou mas não vivi
Procura tempo meu filho
Há sempre tempo para pensar
Há sempre tempo para ouvir
Há sempre tempo para amar
És juiz do tempo que te furtei
Dá-me o teu perdão e um abraço
Pelo silêncio, pelas lágrimas
E pelas horas que não te amei.
In “Jornal de Noticias” – 19/03/00
Rita Lima Cadeia
UM ROMANCE DE REGRESSO
Vindo do Mundo Perdido,
Mau-Máli foi à missão,
por acaso ou a pedido
ensinar sua lição,
fazer o que em qualquer parte
faria como artesão:
trabalhar na sua arte
de bonecos de latão.
Depois, ou por ter gostado
desta ou daquela oração,
ou por ter-se enamorado
de algum Cristo de latão,
fosse lá pelo que fosse,
Mau-Máli fez-se cristão,
dentro e fora baptizou-se,
Mau-Máli virou João.
E, como João, guardou
dentro do seu coração
não palavras que escutou
mas toda a sua intenção.
Pecados mortais e tudo
ouviu com muita atenção…
mas, guerreiro sobretudo,
que lá matar, isso não!
Tendo assim acontecido,
dada e tomada a lição,
voltou ao Mundo Perdido,
não Mau-Máli, mas João.
E a mulher barlaqueada
com Mau-Máli artesão
já com outro tinha armada
sua esteira de traição.
Um timor que assim se engana
sabe a sua obrigação,
a que só uma catana
pode dar satisfação.
Uma adúltera confessa
merece tanto perdão
como o outro: sem cabeça,
o seu crime pagarão.
Mas o que Mau-Máli sabe,
o que manda a tradição,
é coisa que já não cabe
na cabeça de João.
Poderia esquecer tudo,
Cristo, baptismo, oração,
mas lembra-se sobretudo
que lá matar, isso não!
Ora já fora cumprido
o seu tempo na Missão,
já só no Mundo Perdido
há bonecos de latão,
não há lugar onde ponha
sua vida de artesão.
Sem lavar sua vergonha
como há-de viver João?
Por isso decapitou-se
com um só golpe de mão.
Mas... João suicidou-se?
- Mau-Máli matou João!
In “Memória de Timor-Leste”
Edições Pedra Formosa
Leonel Neves
(Poeta Timorense)
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