Domingo, 30 de Agosto de 2009

Eu li... Alphonsus de Guimarães

ROSAS

 

Rosas que já vos fostes, desfolhadas
por mãos também que já foram, rosas
suaves e tristes! Rosas que as amadas,
mortas também, beijaram suspirosas...

 

Umas rubras e vãs, outras fanadas,
mas cheias do calor das amorosas...
Sois aroma de almofadas silenciosas,
onde dormiram tranças destrançadas.

Umas brancas, da cor das pobres freiras,
outras cheias de viço de frescura,
rosas primeiras, rosas derradeiras!

 

Ai! Quem melhor que vós, se a dor perdura,
para coroar-me, rosas passageiras,
o sonho que se esvai na desventura?

 

 

Alphonsus de Guimarães

(Poeta Brasileiro)

 

 

 

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Terça-feira, 25 de Agosto de 2009

Eu li... Maria João Brito de Sousa

UM MAR CÁ DENTRO... 

 

Sabe-me a boca a sal. O meu menino

Há tanto que partiu e mesmo agora

Existe, em mim, um mar que quando chora

Se veste todo dum azul divino...

 

Nunca mais voltará, o pequenino,

Foi para o céu azul aonde mora

E eu não sei quando virá a hora

De poder partilhar o seu destino...

 

Sabe-me a boca a sal. Talvez do mar...

Talvez cá dentro o sangue tenha sal,

Por isso eu tenho a boca assim salgada…

 

E chora, cá por dentro, e quer calar...

(mas tanto mar cá dentro faz-me mal)

Sabe-me a boca a sal e estou calada!

 

 

In “Poeta Porque Deus Quer”

Autores Editora

 

Maria João Brito de Sousa

 

 

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Quinta-feira, 20 de Agosto de 2009

Eu li... Rolando Boldrin

ONDE ANDA IOLANDA

 

Onde anda Iolanda,

que entortou a minha vida

que quebrou meu violão

que escondeu minha bebida

que jurou botar veneno

no meu prato de comida.

 

Iolanda tem defeitos

mas respeita minha dor

fez um livro de receitas

Pra eu ser trabalhador

gosta de me dar conselhos

mas meu samba não suporta

Ah… Meu Deus, que a conserve

Bem longe da minha porta.

 

Onde anda Iolanda

quero só saber com quem

Deus a guarde e tenha sorte

de não ser com um joão-ninguém.

Eu embora não suporte

tanta briga, tanta dor

tomara que tenha sorte

tomara que tenha amor.

 

 

In “Empório Brasil” – S. Paulo – 1988

Editora Clube do Livro/Melhoramentos   

 

Rolando Boldrin

(cantor, actor e apresentador

de televisão brasileiro)

 

 

 

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Sábado, 15 de Agosto de 2009

Eu li... António Gedeão

POEMA DA MALTA DAS NAUS

 

Lancei ao mar um madeiro,

espetei-lhe um pau e um lençol.

Com palpite marinheiro

medi a altura do Sol.

 

Deu-me o vento de feição,

levou-me ao cabo do mundo,

pelote de vagabundo,

rebotalho de gibão.

 

Dormi no dorso das vagas,

pasmei na orla das praias,

arreneguei, roguei pragas,

mordi peloiros e zagaias.

 

Chamusquei o pêlo hirsuto,

tive o corpo em chagas vivas,

estalaram-me as gengivas,

apodreci de escorbuto.

 

Com a mão esquerda benzi-me,

com a direita esganei.

Mil vezes no chão, bati-me,

outras mil me levantei.

 

Meu riso de dentes podres

ecoou nas sete partidas.

Fundei cidades e vidas,

rompi as arcas e os odres.

 

Tremi no escuro da selva,

alambique de suores.

Estendi na areia e na relva

mulheres de todas as cores.

 

Moldei as chaves do mundo

a que outros chamaram seu,

mas quem mergulhou no fundo

do sonho, esse, fui eu.

 

O meu sabor é diferente.

Provo-me e saibo-me a sal.

Não se nasce impunemente

nas praias de Portugal.

 

In “Poesias Completas”

 

António Gedeão

 

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Segunda-feira, 10 de Agosto de 2009

Eu li... Afonso Lopes Vieira

BARTOLOMEU MARINHEIRO

 

Era uma vez
um capitão português
chamado Bartolomeu
que venceu
um gigante enorme e antigo.
Bartolomeu, em menino
pequenino,
ia para o pé do mar...

e ficava a olhar
o mar...
E Bartolomeu cismava...
Ó que lindo, ó que lindo,
o mar, e a sua voz profunda e bela!
Uma nuvem no céu, era uma caravela
que novos céus andava descobrindo...

Ó que lindo, os navios,
que vão suspensos entre a água e o céu,
com velas brancas e mastros esguios,
e com bandeiras de todas as cores!
Bartolomeu cismava
porque ouvia
tudo o que o mar contava
e lhe dizia.

 

 

In “Bartolomeu Marinheiro” – 1912

 

Afonso Lopes Vieira

 

 

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Quarta-feira, 5 de Agosto de 2009

Eu li... Tomás Medeiros

O NOVO CANTO DA MÃE

 

Mãe:
Nós somos os teus filhos
Que sem vergonha
Quebraram as fronteiras do silêncio.
Os filhos sem manhãs
Que rasgaram as noites que cobriam
As carnes das tuas carnes.

 

Nós somos, Mãezinha,
Os teus filhos,
Os pés descalços,
Esfomeados,
Os meninos das roças,
Do cais,
Os capitães d’areia,
Os meninos negros à margem da vida,
Que despedaçaram o destino do teu ventre,
Que endireitaram os instantes
Que marcaram socalcos na terra firme,
Na profundidade das trevas da tua vida.

 

Nós somos, Mãezinha, os teus filhos,
Sexos que germinaram vida,
Forças que desfloraram a virgindade dos dogmas,
Fecundaram minérios de esperança,
Olhos, dinamite de amor,
Mãos que esfacelaram a espessura dos obós,

 

E em cujo silêncio verde

Germina a CERTEZA.

 

Mãezinha,

Nós somos os teus filhos.

 

 

In “Antologia Temática de Poesia Africana I”

Editora Sá da Costa

 

Tomás Medeiros
(Poeta de São Tomense)

 

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