OBRIGADA!
... E tu rezas por mim! Como agradeço
Essa esmola gentil de teu carinho...
Como as torturas de minh’alma esqueço
Nessa tua oração, floco de arminho!
Eu te bendigo, ó santa que estremeço,
Alma tão pura como a flor do linho.
É tua prece à mágoa que padeço
Asa de pomba defendendo um ninho!
Reza, criança! Junta as mãos nevadas
E cerra as níveas pálpebras amadas
Sobre os teus olhos como um lindo véu...
Depois, nas asas de uma prece ardente,
Deixa cantar minh’alma docemente,
Deixa subir meu coração ao céu!
Alto da Saudade – 21 de Maio de 1899
In “Horto”
Auta de Souza
(Poetisa Brasileira)
A ENJEITADINHA
— De que choras tu, anjinho?
"Tenho fome e tenho frio!"
— E só por este caminho
Como a ave que caiu
Ainda implume do ninho!...
A tua mãe já não vive?
"Nunca a vi em minha vida;
Andei sempre assim perdida,
E mãe por certo não tive!"
— És mais feliz do que eu,
Que tive mãe e... morreu!
João de Deus
(Gentilmente remetido por Maria Albertina)
TEUS OLHOS
Os teus olhos são estrelas
mais cadentes que as do céu,
pequeninas e singelas
mas que cegam o olhar meu.
Quem me dera um dia tê-las
aqui junto ao peito meu
e contemplá-las, e vê-las,
como a mãe ao filho seu.
Mas teus olhos tão esquivos
não me fitam um momento,
e meus olhos são cativos
fartos de tanto sofrer
aumentam o meu tormento
que já mal posso conter!...
In “Saudades de Amor”
Jacinto de Almeida
OS VERSOS MAIS TRISTES
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Pablo Neruda
(Poeta Chileno)
AMAR E SER AMADO
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em, teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P'ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano –,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundindo também, amante – amado –
Como um anjo feliz... que pensamento!?
In “Poesias Diversas”
Castro Alves
(Poeta Brasileiro)
(Gentilmente remetido por Kátia Vilanova)
POEMA DA CHUVA
Bem-vinda sejas tu, ó lágrima celeste,
No tempo necessário,
Regrada e repartida.
És pérola magnífica
No ouro que te veste,
– Sangue da Natureza,
A dar à terra vida!
Teu canto se dilui em gostas preciosas,
Que espalhas pela terra
Em gritos de oração!
Teu braço criador
Semeia pão e rosas,
– Transformas em veludo
O mais agreste chão!
Por isso, eu te bem digo, ó chuva minha amiga,
Ó lágrima celeste,
– Poema do Inverno!...
Sem ti, a Primavera,
Seria voz mendiga,
– Morrendo em sede ardente
Do teu amor eterno!
Porto – Dezembro de 1980
In “O Grito das Fragas”
Edição do Grupo de Acção Recreativa e
Cultural Semente Nova (GARC)
Castro Reis
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