Sábado, 30 de Agosto de 2008

Eu li... Manuel Maria de Barbosa du Bocage

OS MILHÕES DE ÁUREOS LUSTRES CORUSCANTES

 

Os milhões de áureos lustres coruscantes
Que estão da azul abóbada pendendo,
O Sol e a que ilumina o trono horrendo
Dessa, que amima os ávidos amantes;
(1)

As vastíssimas ondas arrogantes,
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A leda fonte humilde o chão lambendo,
Loirejando as searas flutuantes;

O vil mosquito, a próvida formiga,
A rama chocalheira, o tronco mudo,
Tudo, que há Deus a confessar me obriga:

E para crer num braço, autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da Fé, mas da Razão me ajudo.

 

(1) – A Lua      

 

 

In “Clássicos Portugueses” – Trechos Escolhidos

Século XVIII – Poesia – Bocage – Sonetos

(Introdução, selecção e notas de Vitorino Nemésio)

Livraria Clássica Editora – Lisboa – 1941

 

 

Manuel Maria de Barbosa du Bocage

 

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Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Eu li... António de Sousa

VIAGEM

 

Era o fim!... Mas levava a descoberta,

para o lado que a vida nunca diz,

de uma ironia lírica e desperta.

E quem faz descobertas é feliz.

 

Passara sobre a hora mais deserta

do silêncio, da morte, do país,

onde a luz ou a sombra é recta e certa

e parara ante a face do Juiz.

 

– Pecados? Bem ou mal? – Tudo era um jogo...

E o seu riso silvava contra o fogo

lá desse olhar que fere como as lanças!

 

Mas quando a voz ditou, fria e de fogo:

– A teus passos andados te desterro!

de joelhos, chorou como as crianças.

 

 

In “Sete Luas” – Edição de Autor

 

António de Sousa

 

 

(Gentilmente cedido pela neta do autor

a poetisa Maria João Brito de Sousa)

 

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Quarta-feira, 20 de Agosto de 2008

Eu li... Isaura Matias de Andrade

AGONIAS DOS POBRES DE CRISTO

 

– «Porque andas, Sol, embuçado

nessa nuvem negra, espessa?

– Também tens frio, coitado!

Eu sinto arder a cabeça,

mas trago o corpo gelado!...

Cristo-Rei se compadeça,

e nos mande o pajem loiro…

Dar-nos sol é dar-nos oiro!»

 

«Virgem Mãe, amaina o vento,

tira-lhe a dura vergasta…

Não é de bom sentimento

tratar assim a pobreza:

Sacode, fustiga e arrasta…

É doido e mau com certeza.»

 

«Chora a minha alma e quem passa

mais se apressa, não se importa…

Bate a chuva na vidraça,

todos lhe fecham a porta…»

 

«Ó chuva, eu choro contigo

o mal de não ter abrigo

onde há calor e carinho…

A ti impele-te o vento;

leva-me a mim o tormento…

Que triste o nosso caminho!»

 

«Acabe o penoso afã;

no Céu se brindam trabalhos:

Hei-de lá ser a manhã

e a chuva prata de orvalhos…»

 

«Cai neve, cai levemente,

faz-me a cama de lavado;

além de ser desgraçado

bem sabes que estou doente…

Chega o lençol prateado

ao meu corpo moribundo…

Aclara tu este mundo…»

 

– «E essa manta azul de estrelas,

esmola das noites belas,

que Deus punha sobre mim?

Era linda, grande e leve…

Roga lá no Céu, ó neve,

que ma traga um Querubim…»

 

Se não há ninguém que valha

a quem viva em tal pobreza,

bendita seja a mortalha

que lhe dá a Natureza!

 

 

In “Sinfonia da Terra” – 1943

Livraria Editora Educação Nacional – Porto

 

Isaura Matias de Andrade

 

 

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Sexta-feira, 15 de Agosto de 2008

Eu li... William Butler Yeats

QUANDO FICARES VELHA

 

 

Quando ficares velha, grisalha e sonolenta
E te aqueceres à lareira, pega neste livro
E lê-o devagar, sonha com o olhar meigo
E com as sombras profundas outrora nos teus olhos;

Quantos amaram os teus momentos de feliz encanto
E a tua beleza com amor falso ou autêntico,
Além daquele homem que amou em ti a alma peregrina
E as tristezas que alteravam o teu rosto;

E curvando-te mais sobre a lareira ao rubro
Murmura, um pouco triste, como o Amor se foi
E caminhou sobre as montanhas bem lá no alto
E escondeu o rosto numa multidão de estrelas.

 

 

In”Poemas de Amor”

Versões Ana Leal

Edição Alma Azul – Coimbra

 

William Butler Yeats

(Poeta Irlandês)

 

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Domingo, 10 de Agosto de 2008

Eu li... Fernando Pessoa

MAR PORTUGUÊS


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


In “Mensagem” 

(Segunda Parte – Mar Português)

Estante Editora

Fernando Pessoa

 

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Terça-feira, 5 de Agosto de 2008

Eu li... Maria de Lourdes Moreira Martins

A CADEIRA

 

Esta cadeira ao acaso

em  que me sento no café,

diz-me tanto, é um tal caso,

que ninguém pensa o que é!

Quantos nela se sentaram…

e nuns minutos do destino,

como eu nela rimaram

alegria e desatino!

 

Uns usaram-na e morreram

sem tomarem gosto à vida…

E quantos nela se prenderam

noutra lama apetecida?

É lenho quase sagrado,

aonde a vida persiste,

há nela um cheiro suado

de quem foi, não mais existe!

 

Quando vai a serra ao corte

o lenho não acaba ali…

Do que se entende por morte,

morte a imagem que eu vi!

Mas a madeira perdura

na cadeira em que me sento,

que mais parece criatura,

conforme seja o momento.

 

 

In “Castelo de Legos”

Papiro Editora

 

Maria de Lourdes Moreira Martins

 

 

 

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