Segunda-feira, 30 de Junho de 2008

Eu li... João Barroso da Fonte

NA DANÇA VOU

 

Na dança

vou

do tempo em mudança,

buscando a esperança

daquilo que eu quero ser

e não sou

 

Meu corpo avança

no barco em que me vou

em busca daquilo que procuro

e não vou

 

Meu peito cansa

depois de muito que já andou

envolto na vaga esperança

daquilo que quero

e não sou

 

E

teimando vou

enquanto não alcanço

aquilo que busco

e não sou.

 

 

In “Letras & Letras” nº. 50

Ano IV – 03/07/1991

 

João Barroso da Fonte

 

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Quarta-feira, 25 de Junho de 2008

Eu li... Cecília Meireles

 

PARA QUE A ESCRITA SEJA LEGÍVEL,

Para que a escrita seja legível,
é preciso dispor os instrumentos,
exercitar a mão,
conhecer todos os caracteres.

 

Mas para começar a dizer
alguma coisa que valha a pena,
é preciso conhecer todos os sentidos
de todos os caracteres,
e ter experimentado em si próprio
todos esses sentidos,
e ter observado no mundo
e no transmundo
todos os resultados dessas experiências.

 

 

Maio, 1963

 

In "Poesia Completa"

Editora. Nova Aguilar

 

Cecília Meireles

(Poetisa Brasileira)

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Sexta-feira, 20 de Junho de 2008

Eu li... Florbela Espanca

 

ESCREVE-ME...

Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!" Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

 

 

27/4/1914

 

 

In “O Livro D’ele – Poesia Completa”

Publicações D. Quixote

 

Florbela Espanca

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Domingo, 15 de Junho de 2008

Eu li... William Shakespeare

SONETO LXXVI

 

Porque de orgulho são tão nus meus versos,

tão limpos de contraste e mudanças?

Porque, com o tempo, não vão sendo imersos

em novo estilo e estranhas esquivanças?

 

Porque escrevo eu sempre tão igual ao que era,

mantendo-me fiel ao que inventei,

que cada termo é como se dissera

quanto de mim procede que o gerei?

 

Que é só de ti, meu doce amor, que escrevo

contigo e Amor aos devaneios basto;

e o meu saber de poeta é este enlevo

 

de ainda outra vez gastar o que está gasto.

Tal como o Sol é novo cada dia,

assim do Amor eu digo o que dizia.

 

 

In “Poemas de Amor” – Versões Ana Leal

Edição Alma Azul

 

William Shakespeare

(Poeta Inglês)

 

 

 

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Terça-feira, 10 de Junho de 2008

Eu li... Luís Vaz de Camões

 

QUE ME QUEREIS, PERPÉTUAS SAUDADES?

 

Que me quereis, perpétuas saudades?

Com que esperança inda me enganais?

Que o tempo que se vai não torna mais,

e, se torna, não tornam as idades.

 

Razão é já, ó anos, que vos vades,

porque estes tão ligeiros que passais,

nem todos para um gosto são iguais,

nem sempre são conformes as vontades.

 

Aquilo a que já quis é tão mudado,

que quase é outra cousa; porque os dias

têm o primeiro gosto já danado.

 

Esperanças de novas alegrias

não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,

que do contentamento são espias.

 

 

In “Eu Cantarei de Amor – Poesia Lírica de Camões”

Areal Editores

 

Luís de Camões

 

 

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Quinta-feira, 5 de Junho de 2008

Eu li... Machado Assis

LÁGRIMA DE CERA

Passou; viu a porta aberta.
Entrou; queria rezar.
A vela ardia no altar.
A igreja estava deserta.

Ajoelhou-se defronte
Para fazer a oração;
Curvou a pálida fronte
E pôs os olhos no chão.

Vinha trêmula e sentida.
Cometera um erro, a cruz
É a âncora da vida,
A esperança, a força, a luz.

Que rezou? Não sei. Benzeu-se
Ràpidamente. Ajustou
O véu de rendas. Ergueu-se
E à pia se encaminhou.

Da vela benta que ardera,
Como tranqüilo fanal,
Umas lágrimas de cera
Caíam no castiçal.

Ela porém não vertia
Ma lágrima sequer.
Tinha fé, - a chama a arder -
Chorar é que não podia.

 

 

In “Falenas” - 1870

 

Machado de Assis

(Poeta Brasileiro)

 

 

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Domingo, 1 de Junho de 2008

Eu li... Joel Curado

CRIANÇAS DE TODO MUNDO


SÃO Brancas, vermelhas,
amarelas e negras.

SÃO Futuros homens e mulheres do mundo.
Têm o olhar inocente e profundo.

VIVEM No Biafra, na América Latina,
na Ásia e na Abissínia.

VIVEM Em barracas, em casas de madeira,
no chão ou numa esteira.

NÃO SABEM Ler, nem escrever,
nem mesmo saber comer.

NÃO SABEM O que são brinquedos,
montanhas ou penedos.

TÊM Sede, fome e dor,
muito frio ou muito calor.

TÊM Poucos anos de vida
porque morrem sem a ter vivido.

SABEM Roubar e enganar,
fugir, correr e arriscar;

SABEM Que lutam para sobreviver.
Porque parar é morrer.

ANDAM Debaixo de chuva e sol escaldante,
de granizo, vento e neve arrepiante.

ANDAM Descalças, nuas e esfarrapadas,
sujas, doentes e esfomeadas.

MORREM Aos milhares, aos milhões,
de doenças sem razões.

MORREM Sós, abandonadas sem compaixão,
sem ninguém lhes dar a mão.

QUEM SÃO Esses desditosos seres
que nunca viveram felizes?

QUEM SÃO Estas a quem, triste sorte,
a ironia do destino condena à morte?

SÃO Crianças, somente crianças,
nada mais são do que crianças.

SÃO Crianças de olhar ingénuo e profundo.
SÃO CRIANÇAS DE TODO O MUNDO.


In “Saúde e Lar/Junho de 1991”

Joel Curado

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