QUEM FOSTE, ANTÓNIO DE SOUSA?
A cor do teu olhar era de mel,
O porte altivo, quase de gigante,
Mas tinhas não-sei-quê no teu semblante
Que despontava em versos a granel...
O mundo deu-te dias como fel!
Ninguém soube entender-te esse bastante
Que te ressuscitasse em doce infante
Ou devolvesse os sonhos, num anel...
Poeta, quem te encheu de horas perdidas?
Os sonhos naufragados, quem tos deu?
Quem te fechou a porta às ilusões?
Nasceste já coberto de mil f´ridas!
O teu reino, afinal, era do Céu
Mas tu desceste ao mundo das paixões...
In “SEBE(M)TARISMOS – Caderno de Rascunhos e Manuscritos”
M. João Brito de Sousa
(Gentilmente cedido pela autora neta de António de Sousa)
ODE À VIDA
Para que nasci, Senhor! Para quê?
Se eu sou o vento materializado,
Meu pensamento é o sopro que não vê
Que trago meu semblante carregada.
Para que nasci, Senhor! Para quê?
Para ver o mar onde mergulho, só,
Para ver a terra que em silêncio vê
Seus filhos mal, o que lhe causa dó.
Para que nasci, Senhor! Para quê?
Para ver o ódio conduzir ao crime
Pessoas justas, boas, mas descrentes.
Para que nasci, Senhor! Para quê?
Salvai minha alma que redime
Meu corpo sob cargas tão prementes.
In “Mágoas de Esperança” – Poemas – 1989
Edição da Autora
Maria Aurora Santos Costa
MURMURANDO
Quando a luz da madrugada
tinge o céu em linda côr,
a Natureza acordada
murmura um hino d’amor.
Murmura a fonte chorando,
a desfiar seus segredos;
enquanto o vento, passando,
murmura entre os arvoredos.
Ao longe as águas do mar,
rolando em fulvas areias,
têm murmúrios de sereias,
por entre o seu marulhar.
A bordar loucas esp’ranças
num sonho belo, doirado,
murmuram lindas crianças,
de rosto puro, rosado.
A murmurar com saudade,
os velhos vão recordando
os tempos da mocidade,
um após outro lembrando…
In “Trovas Portuguesas” – Porto – 1924
Casa Editora de A. Figueirinhas
Campos Teixeira
SE DEUS ME DEU “TALENTO”
Se Deus me deu o "talento"
para o pôr a render,
quero ver se o aumento,
quando chegar o momento,
ao bom Deus o devolver.
Com juros, eu vou tentar!
Quanto mais altos, melhor:
Dois, cinco ou dez, e olhar
para os Céus e esperar
que Deus me dê seu Amor.
Humildade e gratidão,
tentarei ter todo o dia.
A Deus dar meu coração,
junto com esta canção,
meu trabalho e alegria.
Poema não editado de
M. Elisa Flora
(Gentilmente cedido pela a Autora)
FALTA DE CULTURA
Sou um poeta amador
Não sou nenhum titular,
De reduzido valor
Na cantiga popular.
Mas seja lá como for,
P’ra mim importa é rimar.
Tenho falta de cultura
E de frequência escolar.
Só estudei agricultura,
Sem escola frequentar.
Assim não se faz figura
Como poeta popular
Eu mesmo sem tempo estou
Escrevendo o pouco que sei,
Mas sei que longe não vou,
Que foi tarde que comecei.
Mas já alguém me afirmou
Que um poeta me tornei.
In “Realismo Popular”
Poemas – 3ª Publicação
Porto da Lage – Tomar
Manuel António Cordeiro
A NEVADA
Oh! Que loucura não vai no ar!
Parai, ó frias almas ligeiras!
A vida é curta!... Porque, fagueiras,
tombais tão brancas a soluçar?
Que pressa tendes?... – E porque não?
Se, entre os sorrisos da criançada,
breve seremos vultos de fada,
de Rei ou Papa, Napoleão!?...
Vamos ligeiros, mas é por bem!
A árvore é velha: não tem amores?…
Chegamos: fulge de brancas flores,
e é como noiva que à igreja vem.
E é morta a várzea? Lençol de amor
sôbre ela abrimos: que mais espera?
Dorme e renasce na primavera
no oiro do trigo, no rir da flor.
Mas tão depressa?!... Não serão mós
imensas de astros que vos trituram?
Parai! Não vêdes que vos procuram
no céu os Anjos?... Que tendes vós?
Tereis pecados?... Não! Isso não!
Não tem pecados uma açucena!
Mas tereis sonhos?... Sereis antena
levada aos ritmos do coração?
Tendes?!... Pois temo que ireis parar!
Olhai os homens: como o seu louco
voar de sonhos dura tão pouco!
– Mau sestro é êste de ir a sonhar!...
Bélgica – 1927
In “Do Homem e da Terra” – Poemas – 1932
Edições “Brotéria” – Lisboa
Serafim Leite
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