DO PASTOR QUE SIRVO
Do pastor que sirvo,
É tal o jornal.
Que trigo lhe peço,
Centeio me traz.
Bem haja a Clemência,
Que é tão liberal,
Que se um pão lhe peço,
A um Deus me dá.
Amo uma pastora
Tão desnatural,
Que rosas lhe peço,
E espinhos me dá
Bem haja a Clemência,
Que é tão liberal,
Que flores lhe peço,
E amores me dá.
Guardo umas ovelhas,
E é o gado tal,
Que venho em tosquia,
Quando vou por lã.
Bem haja a Clemência,
Que é tão liberal,
Que xerga lhe peço,
E ouro me dá.
Um enxame tenho,
E as abelhas tais,
Que lhe peço mel,
E trago azibar.
Bem haja a Clemência,
Que é tão liberal,
Que açúcar lhe peço,
E néctar me dá.
Cultivo uma vinha,
De tal natural,
Que e Setembro estamos,
E em agraço está.
Bem haja a Clemência,
Que é tão liberal,
Que vinho lhe peço,
E adega me dá.
In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”
Selecção e Org. de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Soror Maria do Céu
1658 – 1753
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