POEMA DO MAR
O drama do Mar,
o desassossego do Mar,
sempre
sempre
dentro de nós!
O Mar!
cercando
prendendo as nossas Ilhas,
desgastando as rochas das nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias,
batendo a sua voz de encontro aos montes,
baloiçando os barquinhos de pau que vão por estas costas...
O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das ilustrações
nas fitas de cinema
e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!
O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais 1...
O Mar!
saudades dos velhos marinheiros contando histórias de tempos passados,
histórias da baleia que uma vez virou a canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres,
nos portos estrangeiros...
O Mar!
dentro de nós todos,
no canto da Morna,
no corpo das raparigas morenas,
nas coxas ágeis das pretas,
no desejo da viagem que fica em sonhos de muita gente !
Este convite de toda a hora
que o Mar nos faz para a evasão !
Este desespero de querer partir
e ter que ficar !
In "Antologia Temática de Poesia Africana 1”
de Mário de Andrade
Editora Livraria Sá da Costa – Lisboa
Jorge Barbosa
(Poeta Cabo-Verdiano)
1902 – 1971
SIMPLICIDADE Eu queria ser simples naturalmente sem o propósito de ser simples. Saberia assim sofrer com mais calma ...
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