CASOU FILIPA RAPADA
Casou Filipa rapada
com o Guapo do lugar,
e porque quis bem casar,
ficou arto mal casada:
hoje é a mal maridada
do sítio de São Francisco,
porque o Guapo vendo o risco,
que seu crédito corria,
em vez de dar-lhe a maquia
se contentou cum belisco.
Que não consumou, se fala,
porque o Noivo em tanta glória
se pôs fraco de memória,
e esqueceu-lhe a cavalgá-la:
a Noiva fez disto gala,
porque ficou co'a honrinha,
e ele diz, que assim convinha:
porque se um homem de bem
não tira a honra a ninguém,
menos a quem a não tinha.
Ele está mui arriscado
a um sucesso infeliz,
porque o que dele se diz,
é, que o tinha bem provado:
a mim me não dá cuidado
ver, que o Noivo consentiu,
porque se a Noiva dormiu,
e diz, que o há de provar,
se cumpriu, hei de eu mostrar,
que já provou, e cumpriu.
Fez o Noivo às carreirinhas
uma airosa retirada,
vendo estar fortificada
a praça com tantas linhas:
mas eu já por contas minhas
tenho a maranha entendida,
e é, que o Noivo em sua vida
não quis, que o Povo malvado
dissesse, que andava assado
por uma mulher cozida.
Se coseu o berbigão,
como diz a gente toda,
muito a Moça me acomoda
para arrais de um galeão:
porque se a sua intenção
foi acaso em tanta bulha
meter (fora vá de pulha)
uma fragata alterosa
por barra tão perigosa
é, que se fiou na agulha.
O Noivo se veio embora,
e ela chora, ao que eu creio,
porque o Noivo se não veio,
não entendo esta Senhora:
mas o que se teme agora,
é, que um dos Cunhados mande,
que o pleito vá a Roma, e ande;
eu não sei, que demo o toma,
pois quer, que passe por Roma
mulher de nariz tão grande.
Obras Completas de Gregório de Matos
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Livª. Civilização Editora – Porto e Contexto Editora – Lisboa
Gregório de Matos
(Poeta Brasileiro)
1623 – 1696
NECESSIDADES FORÇOSAS DA NATUREZA HUMANA Descarto-me da tronga, que me chupa, Corro por um conchego todo o mapa, O...
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