NO OUTONO
Junto à cerca, os girassóis e o seu brilho,
Doentes sentados ao sol, sem alento.
No campo, as mulheres cantam no trabalho,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.
Os pássaros contam lendas de encantar,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.
Há um violino no pátio a gemer.
E já o vinho escuro vão recolhendo.
Todos parecem felizes, libertos,
E já o vinho escuro vão recolhendo.
Os jazidos dos mortos estão abertos,
Pintados pelo sol que vai entrando.
Tradução de João Barrento
In "A Alma e o Caos, 100 poetas expressionistas".
Relógio d'Água
Georg Trakl
(1887-1914)
Áustria
VII - DA MINHA ALDEIA
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
e todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
In “O Guardador de Rebanhos”
Alberto Caeiro
Heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935)
DOIS CORPOS
Dois corpos frente a frente
são às vezes duas ondas
e a noite é um oceano
Dois corpos frente a frente
são às vezes duas pedras
e a noite um deserto
Dois corpos frente a frente
são às vezes raízes
na noite entrelaçadas
Dois corpos frente a frente
são às vezes navalhas
e a noite um relâmpago
Dois corpos frente a frente
são dois astros que caem
num céu vazio
In “Libertad bajo palavra, obra poética (1935-1957)”
Octavio Paz
(1914-1998)
México
Nobel de Literatura de 1990
. Mais poesia em
. Eu li...
. Eu li... Charles Baudelai...
. Eu li... Carlos Drummont ...
. Eu li... Juan Ramón Jimén...
. Eu li... Vincenzo Cardare...