JUNTO A UM MURO VELHO
Junto a um muro velho
A uma casa ruída
A velha amendoeira diz que não
À morte
E fica
De repente
Menina e noiva
Ao mesmo tempo.
O vento ri-se dela
Arranca-lhe as pétalas
- Mas são tantas que não se nota -
Escarnece-a:
- "És uma velha louca de véu e grinalda!"-
Para enxotar os insultos machistas do velho
Vento
Acudo-lhe com estes versos:
- "Não ligues! É inveja!
Estás tão linda assim de noiva, avozinha!"
In “Caminhos de Alcoutim”
Teresa Rita Lopes
N. 1937
CASOU FILIPA RAPADA
Casou Filipa rapada
com o Guapo do lugar,
e porque quis bem casar,
ficou arto mal casada:
hoje é a mal maridada
do sítio de São Francisco,
porque o Guapo vendo o risco,
que seu crédito corria,
em vez de dar-lhe a maquia
se contentou cum belisco.
Que não consumou, se fala,
porque o Noivo em tanta glória
se pôs fraco de memória,
e esqueceu-lhe a cavalgá-la:
a Noiva fez disto gala,
porque ficou co'a honrinha,
e ele diz, que assim convinha:
porque se um homem de bem
não tira a honra a ninguém,
menos a quem a não tinha.
Ele está mui arriscado
a um sucesso infeliz,
porque o que dele se diz,
é, que o tinha bem provado:
a mim me não dá cuidado
ver, que o Noivo consentiu,
porque se a Noiva dormiu,
e diz, que o há de provar,
se cumpriu, hei de eu mostrar,
que já provou, e cumpriu.
Fez o Noivo às carreirinhas
uma airosa retirada,
vendo estar fortificada
a praça com tantas linhas:
mas eu já por contas minhas
tenho a maranha entendida,
e é, que o Noivo em sua vida
não quis, que o Povo malvado
dissesse, que andava assado
por uma mulher cozida.
Se coseu o berbigão,
como diz a gente toda,
muito a Moça me acomoda
para arrais de um galeão:
porque se a sua intenção
foi acaso em tanta bulha
meter (fora vá de pulha)
uma fragata alterosa
por barra tão perigosa
é, que se fiou na agulha.
O Noivo se veio embora,
e ela chora, ao que eu creio,
porque o Noivo se não veio,
não entendo esta Senhora:
mas o que se teme agora,
é, que um dos Cunhados mande,
que o pleito vá a Roma, e ande;
eu não sei, que demo o toma,
pois quer, que passe por Roma
mulher de nariz tão grande.
Obras Completas de Gregório de Matos
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Livª. Civilização Editora – Porto e Contexto Editora – Lisboa
Gregório de Matos
(Poeta Brasileiro)
1623 – 1696
AS FLORES DA PRIMAVERA!
Neste entardecer tão belo...
Entre todas as flores...
Existe uma rosa amarela...
Que vem ressurgindo...
Com a primavera...
Trazendo consigo...
Seu delicado perfume...
Assim como esperanças...
E oportunidades...
Para novas amizades...
A primavera é tão bela...
Porque traz com ela...
Todas as flores e aromas...
Revitalizando a inquietude...
De todos os corações...
As rosas colorem o amor...
As vermelhas exalam paixão...
As amarelas trazem magia e a sedução...
As brancas com sua brandura...
Trazem paz para os corações...
Vânia Staggemeier
(escritora e poeta brasileira)
N. ??
EU AMO TUDO O QUE FOI
Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errónea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
In “Poesias Inéditas”
Fernando Pessoa
1888 – 1935
BIG-BANG
Na minha infância, o Universo estendia-se
do Castelo até às Eiras, envolvendo a Praça
e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
À volta eram ladeiras que velavam o sono do rio
lá no fundo. Era assim o meu mundo
que, para mim, era maior que o infinito
e que em cinco linhas aqui ficou descrito,
contrariando assim, à evidência,
uma das conjecturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang
o meu Universo contrai-se, não se expande.
In “Magnetismo Terrestre”
Fundação Dr. Luís Araújo – Porto – 2006
Regina Gouveia
N. 1945
ENSAIO DE LÁGRIMAS
Se as nossas lágrimas
apagassem o ódio que nos cerca
e apagassem também o fogo que nos mata
mãe
eu pediria as lágrimas de todos
sangrando as pupilas.
Mas temo, mãe
que nos afoguemos um dia
dentro das nossas lágrimas
Hélder Mutéia
(Poeta Moçambicano)
N. 1960
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