OS CABELOS DE INÊS
Deus, e o seu espantoso Juízo…
Testamento de D. Pedro I
Às mãos de D. João VI chega, um dia,
dos cabelos de Inês um pouco de oiro,
de esse adorado tesoiro
loiro, que ao Sol de outrora refulgia.
Raios de fina luz tinham chegado
do silêncio do túmulo dormente,
– fios de mel doirado
raios de Sol ardente –
e com seu vivo lume resplendente
por dentro o haviam todo iluminado!
Toma-os, curioso, nos seus gordos dedos,
o rei, e para vê-los se prepara…
Os cabelos aonde se poisará
boca amorosa e anciosa, em beijos e em segredos…
Mas eis que o vento arranca esses cabelos
de aquelas mãos, no irado gesto aério!...
– Graças te dou, ó vento de mistério…
E nunca mais ninguem conseguiu vê-los.
1909
In “Revista A Águia”
N.º 4 – 1ª Série de 15/1/1911 – Ano I
Afonso Lopes Vieira
1878 – 1946
MANTEM A GRAFIA ORIGINAL
CRESCEU A MENINA
Cresceu a menina que dentro do jardim saltava as
[cordas.
Cresceu a menina!
Cresceram-lhe os peitos,
E os peitos, crescendo,
Puseram-na tonta!
Tem o cabelo
Caido na testa,
Quási apetece
Fazer-lhe uma festa.
Cresceu a menina que dentro do jardim saltava as
[cordas!
Perdeu o bibe de riscado azul,
Teve a angústia de longos sobressaltos,
Mas passados alguns dias
Já usava tacões altos!
Cresceu a menina!
Com ela cresceram
Meninas iguais
E tôdas fugiram
De casa dos Pais…
Quem dantes a conhecia
Agora mal a conhece —
Tudo a enfastia e tudo lhe apetece.
Cresceu a menina que dentro do jardim saltava as
[cordas!
In “Altura” Cadernos de Poesia 1
Casa do Castelo - Editora
Fevereiro de1945
Noel de Arriaga
N. 1918
ILUSÕES
Parte-se alegre, e forte, e cheio de coragem.
A ventura? – Ei-la ali, acenando-nos perto! –
Um passo afouto dá-se, e a vaporosa imagem
Se esvai subitamente... e, de súbito aberto
A nosso olhar surpreso, um hórrido deserto
Se amplia; mas a sombra, as flores, a ramagem,
Ei-las de novo além – a pérfida miragem
Que nos seduz, e atrai, e alenta o passo incerto.
Depois a sede vem, o lábio seca, o ardente
Olhar percorre ansioso os áridos espaços,
Onde brilha e fulgura um sol incandescente...
E da fronte poreja o suor da agonia,
E estendemos debalde os doloridos braços,
Procurando prender a sombra fugidia...
In “VERSOS”
Júlia Cortines
1868 – 1948
(Cronista e Poetisa Brasileira)
AO MEU MELHOR AMIGO
Há muito tempo cruzei-me contigo
mas nada aconteceu de extraordinário,
entre prematuro e retardatário
recusaste ser mais que meu amigo...
Descasei e joguei. Pra meu castigo
o vero afeto foi-me refratário,
minhas ligações - um mesmo calvário
e meus consortes - um só inimigo!....
Enquanto tudo o resto era precário
tua existência foi perene abrigo
no meu acidentado itinerário...
Há muito tempo cruzei-me contigo
e algo aconteceu de extraordinário
- pra toda a vida ganhei um amigo!...
In "Os Confrades da Poesia"
Ano V – Boletim Bimestral 49 – Julho/Agosto.2012
Adelina Velho da Palma
N. 1954
OS OLHOS E O CÉU
Da influencia do céu esplendoroso
Na primeira sensivel creatura,
Amanheceu aquelle olhar saudoso
Que no Infinito, a eterna Luz procura!
O espaço, ou haja sol ou noite escura,
Transmigrou para um sêr mysterioso;
N’uns olhos se mudou a sua altura
E seu fecundo dia luminoso.
Por isso, uns olhos são a Imensidade
Que vê a sua propria claridade
E se sente infinita e se conhece…
São a luz da alvorada e a do sol-pôr;
São a esperança, a dôr, o eterno amor;
São a Estrella que chora e se enternece.
1902
In “Revista A Águia”
N.º 3 – 1ª Série de 1/1/1911 – Ano I
Teixeira de Pascoaes
1877 – 1952
Mantém a grafia original
AI, PENAS DO MEU PENAR!!
As penas que trago comigo
São cada vez mais pesadas
Aquilo que não consigo
São penas já arrastadas
Ai, penas do meu penar!!
As penas com que escrevo
Tenho-as na minha mão
As palavras que são escritas
Brotam do meu coração
Muitas ávidas de doçura
Outras de lágrimas banhadas
Sentem falta de ternura
Esperam mais compreensão
Penas que tenho guardadas
Na minh’alma já vai tempo
Recordam outras passagens
Da vida, nalguns momentos
Jamais serão esquecidas
P’ra sempre ficam marcadas
Ai, penas do meu penar!!
In “Os Confrades da Poesia”
Boletim Bimestral 45 – Jan/Fev. 2012
Rosélia Martins
N. 1943
. Mais poesia em
. Eu li...
. Eu li... Charles Baudelai...
. Eu li... Carlos Drummont ...
. Eu li... Juan Ramón Jimén...
. Eu li... Vincenzo Cardare...