Quinta-feira, 28 de Março de 2013

Eu li... Afonso Lopes Vieira

OS CABELOS DE INÊS

 

                                   Deus, e o seu espantoso Juízo…

                                   Testamento de D. Pedro I

 

 

Às mãos de D. João VI chega, um dia,

dos cabelos de Inês um pouco de oiro,

de esse adorado tesoiro

loiro, que ao Sol de outrora refulgia.

 

Raios de fina luz tinham chegado

do silêncio do túmulo dormente,

– fios  de mel doirado

raios de Sol ardente –

e com seu vivo lume resplendente

por dentro o haviam todo iluminado!

 

Toma-os, curioso, nos seus gordos dedos,

o rei, e para vê-los se prepara…

Os cabelos aonde se poisará

boca amorosa e anciosa, em beijos e em segredos…

 

Mas eis que o vento arranca esses cabelos

de aquelas mãos, no irado gesto aério!...

 

– Graças te dou, ó vento de mistério…

 

E nunca mais ninguem conseguiu vê-los.

 

 

1909

 

In “Revista A Águia”

N.º 4 – 1ª Série de 15/1/1911 – Ano I

 

Afonso Lopes Vieira

1878 – 1946

 

 

MANTEM A GRAFIA ORIGINAL

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Sábado, 23 de Março de 2013

Eu li... Noel de Arriaga

CRESCEU A MENINA

 

Cresceu a menina que dentro do jardim saltava as

                                                 [cordas.

Cresceu a menina!

Cresceram-lhe os peitos,

E os peitos, crescendo,

Puseram-na tonta!

 

Tem o cabelo

Caido na testa,

Quási apetece

Fazer-lhe uma festa.

 

Cresceu a menina que dentro do jardim saltava as

                                                [cordas!

Perdeu o bibe de riscado azul,

Teve a angústia de longos sobressaltos,

Mas passados alguns dias

Já usava tacões altos!

 

Cresceu a menina!

Com ela cresceram

Meninas iguais

E tôdas fugiram

De casa dos Pais…

 

Quem dantes a conhecia

Agora mal a conhece —

Tudo a enfastia e tudo lhe apetece.

 

Cresceu a menina que dentro do jardim saltava as

                                                [cordas!

 

 

 

In “Altura” Cadernos de Poesia 1

Casa do Castelo - Editora

Fevereiro de1945

 

Noel de Arriaga 

N. 1918

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Segunda-feira, 18 de Março de 2013

Eu li... Júlia Cortines

ILUSÕES

 

Parte-se alegre, e forte, e cheio de coragem.

A ventura? – Ei-la ali, acenando-nos perto! –

Um passo afouto dá-se, e a vaporosa imagem

Se esvai subitamente... e, de súbito aberto

 

A nosso olhar surpreso, um hórrido deserto

Se amplia; mas a sombra, as flores, a ramagem,

Ei-las de novo além – a pérfida miragem

Que nos seduz, e atrai, e alenta o passo incerto.

 

Depois a sede vem, o lábio seca, o ardente

Olhar percorre ansioso os áridos espaços,

Onde brilha e fulgura um sol incandescente...

 

E da fronte poreja o suor da agonia,

E estendemos debalde os doloridos braços,

Procurando prender a sombra fugidia...

 

 

In “VERSOS”

 

Júlia Cortines

1868 – 1948

(Cronista e Poetisa Brasileira)

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Quarta-feira, 13 de Março de 2013

Eu li... Adelina Velho da Palma

AO MEU MELHOR AMIGO

 

Há muito tempo cruzei-me contigo

mas nada aconteceu de extraordinário,

entre prematuro e retardatário

recusaste ser mais que meu amigo...

 

Descasei e joguei. Pra meu castigo

o vero afeto foi-me refratário,

minhas ligações - um mesmo calvário

e meus consortes - um só inimigo!....

 

Enquanto tudo o resto era precário

tua existência foi perene abrigo

no meu acidentado itinerário...

 

Há muito tempo cruzei-me contigo

e algo aconteceu de extraordinário

- pra toda a vida ganhei um amigo!...

 

 

In "Os Confrades da Poesia"

Ano V – Boletim Bimestral 49 – Julho/Agosto.2012

 

Adelina Velho da Palma

N. 1954

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Sexta-feira, 8 de Março de 2013

Eu li... Teixeira de Pascoaes

OS OLHOS E O CÉU

 

Da influencia do céu esplendoroso

Na primeira sensivel creatura,

Amanheceu aquelle olhar saudoso

Que no Infinito, a eterna Luz procura!

 

O espaço, ou haja sol ou noite escura,

Transmigrou para um sêr mysterioso;

N’uns olhos se mudou a sua altura

E seu fecundo dia luminoso.

 

Por isso, uns olhos são a Imensidade

Que vê a sua propria claridade

E se sente infinita e se conhece…

 

São a luz da alvorada e a do sol-pôr;

São a esperança, a dôr, o eterno amor;

São a Estrella que chora e se enternece.

 

 

1902

 

In “Revista A Águia”

N.º 3 – 1ª Série de 1/1/1911 – Ano I

 

Teixeira de Pascoaes

1877 – 1952

 

Mantém a grafia original

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Sábado, 2 de Março de 2013

Eu li... Rosélia Martins

AI, PENAS DO MEU PENAR!!

 

As penas que trago comigo

São cada vez mais pesadas

Aquilo que não consigo

São penas já arrastadas

Ai, penas do meu penar!!

As penas com que escrevo

Tenho-as na minha mão

As palavras que são escritas

Brotam do meu coração

Muitas ávidas de doçura

Outras de lágrimas banhadas

Sentem falta de ternura

Esperam mais compreensão

Penas que tenho guardadas

Na minh’alma já vai tempo

Recordam outras passagens

Da vida, nalguns momentos

Jamais serão esquecidas

P’ra sempre ficam marcadas

Ai, penas do meu penar!!

 

 

In “Os Confrades da Poesia”

Boletim Bimestral 45 – Jan/Fev. 2012

 

Rosélia Martins

N. 1943

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