Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2013

Eu li... Alda Espirito Santo

LÁ NO ÁGUA GRANDE

 

Lá no "Água Grande" a caminho da roça

negritas batem que batem co'a roupa na pedra.

Batem e cantam modinhas da terra.

 

Cantam e riem em riso de mofa

histórias contadas, arrastadas pelo vento

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra

e põem de branco a roupa lavada.

 

As crianças brincam e a água canta.

Brincam na água felizes...

Velam no capim um negrito pequenino.

 

E os gemidos cantados das negritas lá do rio

ficam mudos lá na hora do regresso...

Jazem quedos no regresso para a roça.

 

 

In “É Nosso o Solo Sagrado da Terra”

 

Alda Espirito Santo

(Poetisa Santomense)

1926 – 2010

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Sábado, 23 de Fevereiro de 2013

Eu li... Oscar Acosta

A BATALHA

 

Insistente é o mar que para tocar o teu corpo,

agarra a sossegada luz e a ti a cinge,

sobre a tua inviolada e suavíssima pele senti o rumor

do transparente fluir que nela o oceano inicia.

Então, como rodear com as minhas mãos escuras

a invasão húmida do poderoso corpo movediço

e fazer resvalar para um abismo os seus translúcidos membros,

para um universo submerso que proíbe o regresso?

Esta surda batalha que travo com o mar

é um intimo desprendimento das coisas do mundo.

 

 

In “O Mar na Poesia da América Latina”

Selecção dos textos Isabel Aguiar Barcelos

Tradução José Agostinho Batista

Assírio & Alvim

 

Oscar Acosta

(Poeta Hondurenho)

N. 1933

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2013

Eu li... Ana Maria Gazzaneo

ODE À TRISTEZA

 

Dias nulos me enovelam numa bolha

Jazem rotas as antigas ilusões

Existir nesse marasmo sem escolha

O que resta, horas mortas sem paixões.

 

Enumero sem beleza esses vilões

Que tingiram de horror os meus momentos

Retalharam meu futuro e em senões

O que resta de existir em fragmentos.

 

Horas tolas, rabiscar desses sentidos

Sem pudores os meus ais mais doloridos

A tingir de tom cinzento ode à tristeza.

 

De mau gosto essa atitude, sem beleza

Sensação que me desola e faz banida

Sem desfecho, foge ao eixo, morte em vida!

 

 

 

Ana Maria Gazzaneo

(Brasileira)

N. 1960

 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2013

Eu li... Manuel del Cabral

AMOR E MAR

 

Tal como a moeda, vai de porto em porto,

e como a moeda, chaga-me já usada.

Entra em mim como entra a manhã na chaga.

Tal como os barcos, ele só existe quando anda.

 

Com os seus beijos povoa-me de geografia o corpo,

digitais idiomas fala a sua pele de mar.

Mas há algo daquilo que me deixa, o mesmo

que o mar quando atira os náufragos à praia e se vai.

 

Morde como uma serpente dentro de uma esmeralda,

ama como o relâmpago, mata com a claridade,

corvos não equivocados, que famintos disputam

cadáveres de beijos que há na sua pele de mar.

 

A sua cruel beleza escrevo sobre um papel que as crianças

transformam em barquinhos quando há água ao chorar.

Náufrago de orvalho que cai das suas pálpebras,

a água bate à porta do meu peito e vai-se.

 

Mas ela…

não chora de tristeza, não chora de alegria,

da sua gota de pranto saem monstros marinhos.

Com licença do século, sou anterior ao meu corpo,

não o posso salvar.

 

 

Obra Poética Completa

 

In “O Mar na Poesia da América Latina”

Selecção dos textos Isabel Aguiar Barcelos

Tradução José Agostinho Batista

Assírio & Alvim

 

Manuel del Cabral

(Poeta Dominicano)

1907 – 1999

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Sexta-feira, 8 de Fevereiro de 2013

Eu li... Eugenio Montale

VENTO E BANDEIRAS

 

A ventania que alçou o amargo aroma

do mar às espirais dos vales,

e te assaltou, desgrenhou teu cabelo,

novelo breve contra o pálido céu;

 

a rajada que colou teu vestido

e rápida te modulou à sua imagem,

como voltou, tu longe, a estas pedras

que o monte estende sobre o abismo;

 

e como passada a embriagada fúria

retoma agora ao jardim o hálito submisso

que te ninou, estirada na rede,

entre as árvores, nos teus vôos sem asas.

 

Ai de mim! O tempo nunca arranja duas vezes

de igual maneira suas contas! E é esta a

nossa sorte: de outra maneira, como na natureza,

nossa história se abrasaria num relâmpago.

 

Surto sem igual, — e que agora traz vida

a um povoado que exposto

ao olhar na encosta de um morro

se paramenta de galas e bandeiras.

 

O mundo existe... Um espanto pára

o coração que sucumbe aos espíritos errantes,

mensageiros da noite: e não pode acreditar

que homens famintos possam ter sua festa.

 

 

Eugenio Montale

1896 – 1981

 

(tradução de Geraldo H. Cavalcanti)

 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Domingo, 3 de Fevereiro de 2013

Eu li... Tito Olívio

BRINDO À SORTE

 

Tragam-me a taça verde de cristal

Com rubro vinho tinto especial!

Quero brindar à sorte que não vem,

Me fez promessas vãs, inda em criança,

Quando o sorriso tinha a confiança,

Que a vida fez perder neste vaivém.

 

A sorte me enganou de forma vil.

Encheu-me de ilusões, mas era ardil.

Bem cedo me deu auras de riqueza,

A mim, que sempre fui ambicioso

E muito trabalhei pra ser famoso,

Saltar fora das asas da pobreza.

 

Falhou no prometido? Ai, isso não.

Por certo uma varinha de condão

Encheu a minha vida de alto tom

E nos degraus da escada fui subindo.

Ora em paragem, ora regredindo,

A rota nunca foi doce bombom.

 

Podia ser melhor. Para outros foi

E, porque me esforcei, isso me dói.

Mas isso, agora, já pouco interessa.

Brindo à sorte por tudo que me deu

E peço que, se nunca me esqueceu,

De livrar-se de mim, não tenha pressa.

 

 

In “Os Confrades da Poesia”

Boletim Bimestral 45 – Jan/Fev.2012

 

Tito Olívio

N. 1931

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito

.Eu

.pesquisar

 

.Maio 2017

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. Eu li...

. Eu li... Olavo Bilac

. Eu li... António Botto

. Eu li... Charles Baudelai...

. Eu li... Su Dongbo

. Eu li... Jacinta Passos

. Eu li... Laura Riding

. Eu li... Carlos Drummont ...

. Eu li... Juan Ramón Jimén...

. Eu li... Vincenzo Cardare...

.arquivos

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds