HERANÇA DE MORTE
Lírios em mãos de carrascos
Pombal à porta de ladrões
Filho de mulher à boca do lixo
Feridas gangrenadas sobre pontes quebradas
Assim construímos África nos cursos de herança e morte
Quando a crosta romper os beiços da terra
O vento ditará a sentença aos deserdados
Um feixe de luz constante na paginação da história
Cada ser um dever e um direito
Na voz ferida todos os abismos deglutidos pela esperança
Todos os Sonhos
In “Antologia da Poesia Moderna Angolana”
Organização Adriano Botelho de Vasconcelos
União dos Escritores Angolanos
Amélia Dalomba **
(Poetisa e Jornalista Angolana)
N. 1961
**Pseudónimo de Maria Amélia Gomes Barros da Lomba do Amaral
NATUREZA
Sigo, devagar, p'los campos sem fim,
Escuto canções no vento que passa,
As flores bailam, com beleza e graça,
E tudo, em meu redor, lembra um jardim.
Há, no ar, aromas de amor perfeito
Transportados em nuvens de cristal,
O azul do céu é mais celestial
E as papoilas se espalham, sem defeito.
Vê-se uma linda luz que nos acalma,
Que faz lançar, ao alto uma oração
Como agradecimento pela emoção
De poder sentir a paz, dentro da alma.
Volteiam borboletas, tão vaidosas,
Que todas têm cores diferentes,
Parecendo lançar, como presentes,
Sobre a cabeça, pétalas de rosas.
E, assim, envolvido em tanta beleza,
Eu lanço, ao espaço, um grito de alegria
Por sentir que existe tanta poesia
Em tudo o que respeita à natureza.
In “Os Confrades da Poesia”
Boletim Bimestral 45 – Jan/Fev. 2012
António Barroso (Tiago)
N. 1934
INÊS SUBTIL
talvez seja o momento de te dizer
que sou da mais vil beleza, feito de
amar entre os homens apenas as coisas
mais efémeras
talvez seja o momento de te dizer
que me cresceram os teus seios mais
jovens, numa indisfarçável necessidade de
que me pertençam entre as coisas
que te cedo
talvez seja o momento de te dizer
que o teu corpo mulher é um exagero do
meu deus, generoso mais do que nunca na
liberdade da minha fome
não estou certo de que seja o momento de
pedir mais ainda, quanto te roubo a alma e
aos poucos a entorno pelo caminho até ao
outrora vazio do meu coração
como não sei se será certo padecer de alguma
felicidade imprudentemente, naquele
miudinho perigoso de estar quase a
morrer de amor por ti
também eu me sinto capaz de desmaiar com
um orgasmo. mas só agora, aos trinta e
sete anos, só contigo
In “Mil e Setenta e Um Poemas”
Thesaurus Editora
Valter Hugo Mãe
(Poeta Angolano)
N. 1971
CRISANTEMAS
Tão longe do Fúsi-no-Yama,
No nosso outono, as exiladas
Crisantemas da terra em chama,
Florescem em tardes geladas.
Do seu canto natal de flama
Ainda mal desacostumadas,
Florescem em tardes geladas,
Tão longe do Fúsi-no-Yama!
E uma noite negra de lama,
As que viam noites doiradas,
Caem nas charcas, desfolhadas...
Longe de tudo o que se chama,
Tão longe do Fúsi-no-Yama!
Exiladas, 1895
Alberto Osório de Castro
1868-1946
CANÇÃO PARA UMA RAPARIGA DA HORTA
Pede o ritmo lento do milhafre a
resvalar sobre o corpo, a loucura
em viagem no frémito dos lábios a
dor, o fogo e o mar no silêncio escuro.
Pede o eco labiríntico das águas
e não digas nada, o vento dói
ao dizer que te espero como nunca
junto ao rumo das gaivotas solitárias.
Pede a fúria das pálpebras bebidas
na vaga tela oculta no farol
a desembocar no infinito embriagado.
Pede a duna atlântica no pensamento
barco perdido no percurso da bruma
a soprar forte na carne de espuma
In “Visões de Bruma”
Prémio “Antero de Quental” – 1986
Américo Teixeira Moreira
N. (????)
INTERVALO
há não-espaço
quando tenso
o arco da sílaba,
acento de lótus
e sem haver
(com) portas há:
lendas de Mercúrio
vogal e fósforo,
óleo e gomo
o não-tempo
intervale a
outro senso
teor de amêndoas,
figo-figura
de não-língua, ócio
beijo em pronúncia
mel, ferrão de abelha
fio-rasura
In “Luas de Júpiter”
Anome Livros
Beatriz Amaral
(Poetisa Brasileira)
N. 1960
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