ASSIM EU VEJO A VIDA...
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Cora Coralina *
(Poetisa Brasileira)
1889 – 1985
*(Pseudónimo de Ana Lins
dos Guimarães Peixoto Bretas)
OS CINCO SENTIDOS
São belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa,
Será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste,
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo;
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
É só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia
Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte
Será morrer por ti.
In “Folhas Caídas”
Almeida Garrett
1799 – 1854
CONSOLAÇÃO
Quando à noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso...
Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.
Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vão de todo esmorecendo;
Eu cuido ver-te, oh lírio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.
1869
In “Miniaturas” – 1871
Gonçalves Crespo
(Poeta Luso-Brasileiro)
1846 – 1883
POEMA DA PRAIA MORENA
Benguela
tinha tico-tico e colo-colo
nesse tempo
mesmo na Praia Morena
E o Mar
escondia
jamantas terríveis
E tinha
caranguejos,
santolas,
que a gente caçava com fisga.
Foi o filho do Rodrigues
despachante
que ensinou
Nada se perdeu;
o búzio ali está na mezinha de cabeceira
zunindo histórias,
fazendo lembra
o menino que eu fui.
In “O Canto do Matrindinde”.
Editorial Capricórnio – Lobito – 1974
Ernesto Lara Filho
(Poeta Angolano)
1932 – 1977
SIMPLICIDADE
Eu queria ser simples naturalmente
sem o propósito de ser simples.
Saberia assim sofrer com mais calma
e rir com mais graça.
Saberia amar sem precipitações.
Os meus sonhos não meteriam esses rumos impossíveis
de terras mais além.
Bastar-me-ia a curta travessia no mar de canal
num dos nossos minúsculos veleiros
para ir conhecer a ilha defronte.
Não teria ambições de posses e grandezas.
Contentar-me-ia
com os insignificantes objectos que os pobres estimam
algum canivete com argola para pendurar no cinto
que bem me serviria para picar na palma da mão
o tabaco para o cachimbo.
Ou talvez quisesse um relógio barato
desses que vinham do Japão antes da guerra.
Chegá-la-ia ao ouvido do meu filho mais novo
só para lhe ver no rosto
a expressão de espanto e curiosidade.
E quando estivesse assentado à porta de casa
nas pesadas noutes de Verão
veria as horas no mostrador luminoso.
Eu queria ser simples
e a minha vida seria
sem egoísmos, sem ódios, sem invejas, sem remorsos.
A minha felicidade
não incomodaria ninguém
nem haveria impropérios nem blasfémias
nos meus momentos difíceis.
Seria sem gramática
a minha poesia,
feita toda de cor
ao som do violão
com palavras aprendidas na fala do povo.
Eu queria ser simples naturalmente
sem saber que existia a simplicidade.
In “Ler Por Gosto”
Areal Editores
Jorge Barbosa
(Poeta Cabo-Verdiano)
1902 – 1971
POEMA AO SOL
II
O sol da minha terra
o seu tamanho
Entra em todos os olhos
mesmo nas fundas cacimbas sem futuro
É a única oferta.
O sol da minha terra
o seu calor
Arde em todos os peitos
aquele fogo lento das massuícas
É o único alimento.
O sol da minha terra
a sua luz
Acende em todas as coisas
o convite das cores do céu-folhas-musseque
É a única pureza.
O sol da minha terra
Às vezes é também
um relâmpago do meio-dia
E queima as sombras dos homens,
O sol da minha terra!
O sol da minha terra!
In “Ler Por Gosto”
Areal Editores
Arnaldo Santos
(Poeta Angolano)
N. 1935
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