Sexta-feira, 31 de Dezembro de 2010

Eu li... Irene Lourenço

SORRISO DE ESPERANÇA

 

Ano Novo! Ano Novo! Aleluia!

Que em cada rosto brilhe nova esperança

E que desapareçam da lembrança

As angústias, as dores, a nostalgia.

 

Que em cada coração haja bonança,

Que seja o ressurgir de um novo dia.

E que p’ra todos seja a harmonia

Seguro trampolim para a mudança.

 

Façamos também votos com fervor

Que o Novo Ano traga paz e amor

Ao coração das gentes sequiosas.

 

E que, das armas duras, inclementes,

Que ceifam tantas vidas inocentes,

Em vez de ogivas, saia pão e rosas.

 

 

In "Fátima Missionária"?

 

Irene Lourenço

 

 

 

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Segunda-feira, 27 de Dezembro de 2010

Eu li... Alberto Caeiro/Fernando Pessoa

DIZEM QUE EM CADA COISA UMA COISA OCULTA MORA

 

Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.

Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,

Que mora nela.

 

Mas eu, com consciência e sensações e pensamento,

Serei como uma coisa?

Que há a mais ou a menos em mim?

Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo -

Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.

Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?

 

O vento sopra sem saber.

A planta vive sem saber.

Eu também vivo sem saber, mas sei que vivo.

Mas saberei que vivo, ou só saberei que o sei?

Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando,

Sinto, penso, movo-me por uma força exterior a mim.

Então quem sou eu?

 

Sou, corpo e alma, o exterior de um interior qualquer?

Ou a minha alma é a consciência que a força universal

Tem do meu corpo por dentro, ser diferente dos outros?

No meio de tudo onde estou eu?

 

Morto o meu corpo,

Desfeito o meu cérebro,

Em coisa abstracta, impessoal, sem forma,

Já não sente o eu que eu tenho,

Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,

Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.

 

Cessarei assim? Não sei.

Se tiver de cessar assim, ter pena de assim cessar,

Não me tomará imortal.

 

 

5-6-1922

 

In “Poemas Inconjuntos”

 

Alberto Caeiro/Fernando Pessoa

1889 – 1915

 

 

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Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010

Eu li... Maria Rosário Nunes

LUZ NAS TREVAS

 

De Maria vai nascer o Salvador

o Deus vivo, Emanuel, feito criança.

Com Maria, peregrinos do Amor,

em Advento caminhamos nas Esperança.

 

És, Maria, brilho novo, nova aurora,

és estrela que nos vem anunciar:

O Messias prometido é o Profeta,

vai nascer o Deus amor que vem salvar.

 

És, Maria, uma luz em nossa trevas,

és presença no silêncio que anuncia:

O Messias prometido é Deus connosco,

vai  nascer o novo Sol, o novo Dia.

 

 

In “Fátima Missionária”

 

Maria Rosário Nunes 

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Domingo, 19 de Dezembro de 2010

Eu li... Mário Saa

XÁCARA DAS MULHERES AMADAS

 

Quem muitas mulheres tiver,
em vez duma amada esposa,
mais se afirma e se repousa
pera amar sua mulher;
quem isto não entender…
em cousas d’amor não ousa,
em cousas d’amor não quer!

Quantas mais, mais se descansa,
mais a gente serve a todas;
quantas mais forem as bodas,
quantos mais os pares da dança,
menos a dança nos cansa
o gosto d’andar nas rodas.

Que quantas mais, mais detido
a cada uma per si;
nem cansa tanto o que vi,
nem fica o gosto partido;
ao contrário, é acrescido
a cada uma per si!

No paladar de mudar
mais se sente o gosto agudo:
que amar nada ou amar tudo
é estar pronto a muito amar;
o enjoo vem de não estar
a par do nada e do tudo.

Mais fàcilmente se chega
pera muitas que pera uma;
e a razão é porque, em suma,
se esta razão me não cega,
quem quer que muitas adrega
é como tendo… nenhuma!

Com muitas, descanso vem,
faz o desejo acrescido:
que é o mais apetecido
aquilo que se não tem;
e o apetite é o bem;
e em saciá-lo é perdido.

Também a mulher que tem
seu marido repartido
é mais gostosa do bem
que advém de seu marido!

Tão gostosa e recolhida,
tão pronta e tão conformada,
quanto o gosto é não ter nada;
porque o gosto é ser servida
e não o estar contentada.
O gosto é cousa corrente,
e quem o tem já não sente
o gosto dessa corrida,
que tê-lo, é cousa… jazente…
que tê-lo, é cousa… perdida!

Ora, pois, nesta jornada
não vi nada mais de amar
que ter muito por chegar
e cousa alguma chegada;
não vi nada mais de ter…
que ter muito que perder…
e cousa alguma ganhada!

 

 

Cancioneiro do Salão dos Independentes

 

In “Líricas Portuguesas” –

Portugália Editora – 3.ª Série

 

Mário Saa

1894 – 1971

 

 

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Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010

Eu li... Luís Adriano Carlos

TODA A METÁFORA

 

Toda a metáfora nos contém: de nós é feita

em um pedaço e nada mais. Como

se fôssemos tragados pela força

de seu poder desnudo e

de nós morrêssemos de súbito.

 

Toda a metáfora nos sustém / onde

não estamos como se

estivéssemos. E sempre

nos guarda a margem a que falta o rio

para nos banharmos. E além,

 

muito além de para lá, talvez

outros nos banhemos em

um rio sem a margem. Toda

a metáfora nos mantém

um pouco aquém

dela e de ninguém.

 

 

In “Poesia Digital - 7 Poetas dos Anos 80”

Campo das Letras

 

Luís Adriano Carlos

N. 1959

 

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Sábado, 11 de Dezembro de 2010

Eu li... Guerra Junqueiro

ORAÇÃO AO PÃO

 

Com quantos grãos de trigo um pão se fez?
Dez mil talvez?
Dez mil almas, dez mil calvários e agonias,
Todos os dias,
Para insuflar alentos n'alma impura
Duma só criatura!
Homem, levanta a Deus o coração,
Ao ver o pão.
Ei-lo em cima da mesa do teu lar;
Olha a mesa: um altar!
Ei-lo, o vigor dos braços teus,
O pão de Deus!
Ei-lo, o sangue e a alegria,
Que teu peito robora e teu crânio alumia!
Ei-lo a fraternidade,
Ei-lo, a piedade,
Ei-lo, a humildade,
Ei-lo a concórdia, a bem-aventurança,
A paz em Deus, tranquila e mansa!
Comer é comungar. Ajoelha, orando,
Em frente desse pão, ou duro ou brando.
Antes que o mordas, tigre carniceiro,
Ergue-o na luz, beija-o primeiro!
Depois devora! O pão é corpo e alma
Em corpo e alma
O comerás,
Tigre voraz.
São dez mil almas brancas, cor de Lua,
Transmigrando divinas para a tua!

 

 

1902

 

In “Oração ao Pão”

 

Guerra Junqueiro

1850 – 1923   

 

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Terça-feira, 7 de Dezembro de 2010

Eu li... Eugénio de Castro

A COROA DE ROSAS

 

A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.

 

Sem nunca te encontrar, crendo avistar-te
nas moças que encontrava, donairosas,
fui-as beijando e fui-lhes dando rosas
da coroa feita com amor e arte.

 

Trago, de caminhar, os membros lassos,
acutilam-me os ventos e as geadas,
já não sei o que são noites serenas…

 

Sinto que vais chegar, ouço-te os passos,
mas ai! nas minhas mãos ensanguentadas
uma coroa de espinhos trago apenas!



Eugénio de Castro

1869 – 1944

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