Domingo, 31 de Outubro de 2010

Eu li... Natércia Freire

E LEVANTAM-SE AS PESSOAS

E levantam-se as pessoas
Como quem se adormecesse.
Preparam-se para o sono
De uma vigília nas ruas
Nas casas e nos empregos.

E naufragam e sufocam
Nas avenidas do Tempo.
Conversam como quem fecha
Creches gaiolas enterros

– Crianças aves e mortos.

Nos sorrisos e nos risos
Na lucidez dos reflexos
Pensam os tristes dos homens
Ganhar os dias correndo.
Mas são retidos nas sombras.
São amarrados ao vento.
São sacudidos em potros
E forcas de entendimento.
Eles que são cabeleiras,
Nas chuvas de outros intentos
Nos rios e nas goteiras.

E levantam-se as pessoas
Como quem fosse viver.

Dá o Sol por sobre o Dia
Faz o dia apodrecer.

(Maduro quer dizer Morte
Com toda a sabedoria)

Deitam-se então as pessoas
Para a morte de outro dia.


(Os Intrusos – 1971)


In "Antologia Poética"

Assírio & Alvim

 

Natércia Freire

1919 – 2004

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quarta-feira, 27 de Outubro de 2010

Eu li... Gabriel Raminhos

SONHAR FAZ PARTE DA VIDA

 

Sonhar faz parte da vida

E nos enche de magia…

Numa falaz existência

Será vã nossa vivência

Se, no nosso dia-a-dia,

Não tivermos como guia

Um sonho que nos seduz…

E seguir a sua luz

Com o nosso empenhamento,

Abrir novos horizontes…

Atravessar novas pontes…

E dar vida ao pensamento!

 

O sonho que um dia temos

Nesse tempo que vivemos

E que tanto nos cativa…

Dentro de nós, deve ter,

Um lugar para viver…

Uma chama sempre viva!

 

Num mundo de fantasia,

Não sabemos, dia-a-dia,

O nosso sonho agarrar…

Gastamos nossa existência,

Sem empenho e persistência

Para o poder conquistar!

Mas se houver dentro de nós

Vontade de o envolver…

Não vamos viver tão sós;

Vamos dar-lhe a nossa voz

E o nosso sonho de viver!

 

 

In “Jornal Mensal PALAVRA” 

Reguengos de Monsaraz

13/04/2008 – Ano XLI – N.º 491

 

Gabriel Raminhos

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | ver comentários (1) | favorito
Sábado, 23 de Outubro de 2010

Eu li... Fernando Pessoa

QUANDO ESTOU SÓ RECONHEÇO

 

Quando estou só reconheço

Se por momentos me esqueço

Que existo entre outros que são

Como eu sós, salvo que estão

Alheados desde o começo.

 

E se sinto quanto estou

Verdadeiramente só,

Sinto-me livre mas triste.

Vou livre para onde vou,

Mas onde vou nada existe.

 

Creio contudo que a vida

Devidamente entendida

É toda assim, toda assim.

Por isso passo por mim

Como por cousa esquecida.

 

 

9-8-1931

 

In “Novas Poesias Inéditas – Fernando Pessoa”

(Direcção, recolha e notas de

Maria do Rosário Marques Sabino

e Adelaide Maria Monteiro Sereno) – 4ª ed. 1993

Ática

 

 

Fernando Pessoa

1888 – 1935

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Eu li... Leandro Carvalho dos Santos

SONS DAS PALAVRAS

 

Poesia é tudo não sendo nada,
é obra inacabada.
É o sentir de toda a gente,
é o escrever de quem não mente.
É a escrita alterada, a vida reinventada, o sentir da madrugada.
Poesia é tudo não sendo nada.
Poesia é o choro da criança, é a lembrança,
é a herança, é a música traduzida numa dança,
é a esperança.
É a garganta que mesmo rouca canta,
é o encantamento que encanta.
Poesia é obra inacabada,
Poesia é tudo não sendo nada.
Poesia é a luz do luar,
É a penumbra para iluminar, é a aurora de um novo dia a raiar.
É o sol e a luz solar, são os trovões e o trovejar,
é a chuva e o molhar, é a água de um rio a passar, é o correr
desse rio até ao mar.
Poesia é obra inacabada,
Poesia é tudo não sendo nada.
Poesia é o acordar, o almoçar, o lanchar, o deitar, o procriar, é o sonhar.
Poesia é obra inacabada,
Poesia é tudo não sendo nada.
Poesia és tu, somos nós, quando podemos e estamos sós
no meio de muita gente, que não sente, que mente,
que não se assume de frente.
Poesia é obra inacabada,
Poesia é tudo não sendo nada.

 

In “Sons das Palavras”

 

Leandro Carvalho dos Santos

N.1957

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | ver comentários (2) | favorito
Sexta-feira, 15 de Outubro de 2010

Eu li... Manuel da Fonseca

ESTIO

 

Horizonte

todo de roda

caiada de sol.

Ao meio

do cerro gretado

esguia cabeça de cobra

olha assobios de lume

sobre espigas amarelas…

(…Campaniços degredados

na vastidão das searas

sonham bilhas de água fria!...)

 

 

In “Poemas Completos”

Portugália Editora

 

Manuel da Fonseca

1911 – 1993  

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | ver comentários (1) | favorito
Segunda-feira, 11 de Outubro de 2010

Eu li... Matilde Rosa de Araújo

A CRIANÇA

A criança,
Toda a criança
Seja de que raça for,
Seja negra, branca, vermelha, amarela,
Seja rapariga ou rapaz.
Fale que língua falar,
Acredite no que acreditar,
Pense o que pensar,
Tenha nascido onde fora,
Ela tem direito...

Amor,
Alimentação,
Casa,
Cuidados médicos,
O amor sereno de mãe e pai,
Ela vai poder
Rir,
Brincar,
Crescer,
Aprender a ser feliz...

 

 

In "O Palhaço Verde"

Livros Horizonte

Matilde Rosa de Araújo

N. 1921

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quinta-feira, 7 de Outubro de 2010

Eu li... Ricardo Reis/Fernando Pessoa

BOCAS ROXAS DE VINHO

 

Bocas roxas de vinho,

Testas brancas sob rosas,

Nus, brancos antebraços

Deixados sobre a mesa;

 

Tal seja, Lídia, o quadro

Em que fiquemos, mudos,

Eternamente inscritos

Na consciência dos deuses.

 

Antes isto que a vida

Como os homens a vivem,

Cheia da negra poeira

Que erguem das estradas.

 

Só os deuses socorrem

Com seu exemplo aqueles

Que nada mais pretendem

Que ir no rio das coisas.

 

 

In “Odes de Ricardo Reis – Fernando Pessoa – Antologia Poética”

3ª. Edição – Biblioteca Ulisses de Autores Portugueses

Editora Ulisses

 

Ricardo Reis/Fernando Pessoa

1887 – 1935

 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito

.Eu

.pesquisar

 

.Maio 2017

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.posts recentes

. Eu li...

. Eu li... Olavo Bilac

. Eu li... António Botto

. Eu li... Charles Baudelai...

. Eu li... Su Dongbo

. Eu li... Jacinta Passos

. Eu li... Laura Riding

. Eu li... Carlos Drummont ...

. Eu li... Juan Ramón Jimén...

. Eu li... Vincenzo Cardare...

.arquivos

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds