Quinta-feira, 30 de Julho de 2009

Eu li... António de Sousa

CAMINHEIRO

 

Que distância vai perdida

nos teus olhos, amor!

– Teus beijos, o teu sabor;

o sal da minha vida!

 

A vida que me pedia

a ternura dos teus braços!

A onda dos meus abraços:

o que eu valia!

 

Ai, nem ave nem flor

nos meus caminhos doridos!

Gastos os cinco sentidos

por amor...

 

(Que importam cuidados

se o destino vem?

Quem dá o que tem

só dá seus pecados...)

 

 

In “O Náufrago Perfeito”

Editorial Atlântida – Coimbra

 

António de Sousa

 

 

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Sábado, 25 de Julho de 2009

Eu li... Cesário Verde

A FORCA

 

Já que adorar-me dizes que não podes,
Imperatriz serena, alva e discreta,
Ai, como no teu colo há muita seta
E o teu peito é peito dum Herodes,

Eu antes que encaneçam meus bigodes
Ao meu mister de amar-te hei de pôr meta,
O coração mo diz - feroz profeta,
Que anões faz dos colossos lá de Rodes…


E a vida depurada no cadinho
Das eróticas dores do alvoroço,
Acabará na forca, num azinho,

Mas o que há de apertar o meu pescoço
Em lugar de ser corda de bom linho
Será do teu cabelo um menos grosso.

 

 

O2 de Abril de 1873

 

In “O Livro de Cesário Verde”

 

Cesário Verde

 

 

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Segunda-feira, 20 de Julho de 2009

Eu li... Pablo Neruda

O TEU RISO

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no Outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


Pablo Neruda

(Poeta Chileno)

 

 

(Gentilmente remetido pela amiga Kátia Vilanova)

 

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Quarta-feira, 15 de Julho de 2009

Euli... Walter Benjamin

TAL COMO INVICTO PRÍNCIPE A SURTIDA

 

Tal como invicto príncipe a surtida

por terra alheia acaba em paz segura

tu submeteste a ti com a mão pura

antes de abandoná-la a própria vida

 

Tomaste aos fiéis a ver-te nessa altura

- ignoto e evitado – de partida

da dura lide a leve palma havida

e não mais deste a ver tua figura

 

O exército passou e dispersou

perdeu-se a terra que em ti começou

quem sabe quanto tempo ainda leve

 

inacabada Em mim de vez entrou

a fila o medo de altos dias Sou

quem fica atrás e teus feitos escreve.

 

 

In “Os Sonetos de Walter Benjamim”

Tradução de Vasco Graça Moura

Campo das Letras Editores – 1999

 

Walter Benjamin

(Filósofo e sociólogo judeu alemão)

 

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Sexta-feira, 10 de Julho de 2009

Eu li... Florbela Espanca

O TEU OLHAR

 

Quando fito o teu olhar,
Duma tristeza fatal,
Dum tão íntimo sonhar,
Penso logo no luar
Bendito de Portugal!

O mesmo tom de tristeza,
O mesmo vago sonhar,
Que me traz a alma presa
Às festas da Natureza
E à doce luz desse olhar!

Se algum dia, por meu mal,
A doce luz me faltar
Desse teu olhar ideal,
Não se esqueça Portugal
De dizer ao seu luar

Que à noite, me vá depor
Na campa em que eu dormitar,
Essa tristeza, essa dor,
Essa amargura, esse amor,
Que eu lia no teu olhar!

 

In “O Livro D’ele – Poesia Completa”

Publicações D. Quixote

 

Florbela Espanca

 

 

 

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Domingo, 5 de Julho de 2009

Eu li... António Baticã Ferreira

PAÍS NATAL

 

Um sentimento de amor pátrio sobe no meu coração,

Em espírito demando o meu país natal,

E lembro aquela floresta africana,

Cheia de caça e verdura:

Lembro as suas imensas árvores gigantes,

A folhagem verde ou amarela

Que nos perfuma.

Revejo a minha infância,

Toda cheia de alegria:

Eu corria pelo mato,

Espiava os animais selvagens,

Sem medo;

E olhava os lavradores nos campos,

E, no mar, o pescadores,

Que lutavam contra o vento, para agarrar o peixe,

E que eu, atento, seguia com o olhar:

Como gostava de os ver no oceano

Domar as vagas, que lhe queriam virar as barcas!

(Ah! bem me lembro, bem me lembro do meu país natal!)

 

 

In ”Primeiro Livro de Poesia”

Selecção de Sophia de M. B. Andresen

Editorial Caminho

 

António Baticã Ferreira

(Poeta Guineense)

 

 

 

 

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