PRANTO
No coração torturado,
Lado a lado lá ficou,
Com o pranto, a saudade,
Daquele amor que acabou!...
Na vida apenas não chora
Quem um dia não amou…
Na noite longa, estrelada,
A minha alma dolorida
À tristeza abandonada
Chora, baixinho, por ti!...
Tem cautela, tem cuidado,
Passa de largo: Que eu sou
Esse louco, desvairado,
Que em vida tanto te amou!...
A vida…
É estrada perdida,
Estrada longa sem ter fim…
Ai, pobrezinho de mim,
Por essa estrada onde vou!...
Já que o amor me roubaste
Não me roubes a saudade
Que desse amor ficou!...
Não me busques, vai-te embora!...
Nesta vida só não chora
Quem um dia não amou!...
In “Saudades de Amor”
Jacinto de Almeida
RENASCER
Morte,
Apenas a hora do limite.
Mas não a hora da finitude.
Não é a vida que se demite:
Adquire apenas outra amplitude!
Amplitude que liga a terra ao céu
No corpo, sem vida, que jaz
Prisioneiro da terra que o desfaz!
Ali, prisioneiro, inerte,
À espera da Palavra que o liberte
Do tempo e da história…
À espera da Palavra – Vitória!
Eu quero apenas dizer,
À espera, sempre à espera
Desta Primavera
Que não morreu e vai renascer!
In “Fátima Missionária”
Teófilo Minga
A PONTE FAZ UNIÃO
Eu quero ser
ponte a unir.
Eu não quero ser
muro a dividir.
Só a ponte faz união.
O muro é separação.
Une um ponto
a ponte
a outro ponto;
leva cada um a seu irmão;
a ponte gera comunhão.
In “Fátima Missionária”
Davide V. Gonçalves
SONETO XXVII
Cansado de tanta labuta corro para a cama,
O caro repouso para os membros fatigados de tanto viajar;
Mas começa então uma viagem mental,
Para cansar minha mente, quando já se esgotou o corporal:
Pois então meus pensamentos (desde longe onde me quedo)
Começam zelosa peregrinação até ti,
E mantém minhas pálpebras a cair completamente escancaradas,
Fitando a escuridão, que os cegos miram:
Só que a visão imaginária de minh’alma
Apresenta a tua imagem ao meu olhar sem visão,
A qual, tal qual jóia engastada na noite horrenda,
Torna linda a negra noite e sua velha face nova.
Assim que, de dia meus membros, de noite minha mente,
Para ti e para mim, não encontram descanso.
In “Sonetos de William Shakespeare”
William Shakespeare
(Poeta Inglês)
A COLHEITA
Ainda hoje me lembro,
era manhã de Setembro,
de sol com imenso brilho.
Eu à frente abrindo cova,
Chiquinha, menina nova,
vinha atrás plantando o milho.
O sol dava um bronzeado
no seu rostinho corado,
dando-lhe uma cor morena;
cada grão que ela plantava
uma esperança brotava
como brota uma açucena…
A natureza não erra:
vi os grãos rachando a terra
e o broto surgir robusto;
e em cada braça do eito
o coração beijava o peito
que nem o vento no arbusto.
O milho cresceu depressa,
parecia uma promessa
na minha boca granando;
e no tempo da colheita,
Chiquinha, mocinha feita
era a espiga se empalhando.
Numa tarde de pamonha,
eu sem jeito, com vergonha,
já pressentia o perigo…
Fui buscar no milharal
mais milho para o curau,
e Chiquinha foi comigo.
Quebrando milho na chuva
eu tropeçava nas curvas
do seu corpinho molhado…
E debaixo do pé de milho,
como espigas de um atilho
ficamos os dois atados.
Passou um ano e desta feita,
vou fazer outra colheita,
o ano foi bom pro milho…
Enquanto o pé solta espiga
Chiquinha solta a barriga
pra colhermos nosso filho.
In “Empório Brasil” – S. Paulo – 1988
Editora Clube do Livro/Melhoramentos
Hamilton Carneiro (Folclorista e apresentador Brasileiro)
POEMA DE MANHÃ
Mamãe!
sonho que, um dia,
em vez dos campos sem nada,
do êxodo das gentes nos anos de estiagem
deixando terras, deixando enxadas, deixando tudo,
das casas de pedra solta fumegando do alto,
dos meninos espantalhos atirando fundas,
das lágrimas vertidas por aqueles que partem
e dos sonhos, aflorando, quando um barco passa,
dos gritos e maldições, dos ódios e vinganças,
dos braços musculados que se quedam inertes,
dos que estendem as mãos,
dos que olham sem esperança o dia que há-de vir
– Mamãe!
sonho que, um dia,
estas leiras de terra que se estendem,
quer sejam Mato Engenho, Dacabalaio ou Santana,
filhas do nosso esforço, frutos do nosso suor,
serão nossas.
E, então,
o barulho das máquinas cortando,
águas correndo por levadas enormes,
plantas a apontar,
trapiches pilando
cheiro de melaço estonteando, quente,
revigorando os sonhos e remoçando as ânsias
novas seivas brotarão da terra dura e seca!...
In “Antologia Temática de Poesia Africana, I”
Editora Sá da Costa
António Nunes
(Poeta Cabo-Verdiano)
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