MOIRO E CRISTÃ
O pobre moiro enamorou-se
D'Eli, moça cristã, sendo filho do Emir...
Tamanha dor sentiu, que o mísero exilou-se,
Como se alguém pudesse à propria dor fugir!
Longe, na terra alheia, abrasa-lhe a memória
A imagem da mulher que a vida lhe prendeu,
Vendo-a morta, a sorrir sob um nimbo de glória,
Mas no esplendor de um céu que nem mesmo era o seu...
Por sua vez, Eli nunca pôde esquecê-lo,
E nesse imenso amor, com presságios de agoiro,
Sentia-se morrer, como um lírio no gelo,
Sem o doce luar dos seus olhos de moiro...
Mas no instante supremo, ambos crentes, temendo
Que a Morte os separasse, em tão opostos céus,
Ele invocou Jesus, cheio de fé, morrendo;
E a cristã murmurou: «Alá! só tu és Deus!»
In “Sol de Inverno”
António Feijó
1859 – 1917
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